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Padre Rafael deixou o apartamento de Jeanne um pouco antes do amanhecer.<br />
Ele não se sentia bem...<br />
Sabia o que fizera, sabia que pecara mas, o pior de tudo era ter a certeza de que jamais poderia continuar a viver sem aquela mulher.<br />
Não voltou para a casa paroquial.<br />
Como um sonâmbulo, ele caminhou ao longo da Rua das Palmeiras, atravessou o Largo do Arouche e foi para a Praça da República.<br />
Sentou num banco em frente ao Caetano de Campos, ali se deixou ficar por quase uma hora e, depois, caminhou ao longo da Barão<br />
de Itapetininga até o Viaduto do Chá.<br />
Olhou para baixo.<br />
Ergueu a cabeça para o céu e, em seguida, saltou.<br />
CAPÍTULO 14<br />
Jeanne não deixou de ficar impressionada com a morte do padre, publicada em todos os jornais, assunto obrigatório em todas as<br />
conversas.<br />
Porém, para ela, era apenas a confirmação de que, mais uma vez, havia quitado sua dívida com o Príncipe das Trevas.<br />
— Agora — pensou Jeanne — Só tenho de esperar que ele cumpra a sua parte no pacto...<br />
Não precisou esperar muito.<br />
Naquela mesma tarde, um senhor veio procurá-la com uma pasta de couro na mão, dizendo-lhe que recebera ordens para lhe trazer<br />
algumas coisas.<br />
Desconfiada, Jeanne não quis deixá-lo entrar mas o homem, com um sorriso, mostrou suas credenciais e explicou:<br />
— Foi o doutor Tomás Camargo que me enviou aqui.<br />
Jeanne franziu as sobrancelhas e, depois de um esforço de memória, lembrou-se do empresário que tinha sido o seu primeiro cliente<br />
a bordo do navio que a trouxera para o Brasil.<br />
Abriu um sorriso e afastou-se da porta para que o visitante pudesse entrar, enquanto este dizia:<br />
— O doutor Tomás acaba de ser nomeado pelo Governo como interventor no Banco de Crédito e Comércio. E, como sabia que a<br />
senhora tinha conta lá, achou que ficaria contente em ser a primeira a receber a devolução de suas economias...<br />
Baixando a voz, acrescentou:<br />
— A primeira e provavelmente a última... Logo depois de ter assinado a ordem de pagamento, o Governo mandou paralisar todas as<br />
operações do banco... Ninguém mais vai receber um só tostão por um bom tempo!<br />
Jeanne olhou maravilhada para as cédulas novas que o homem tirava de dentro da pasta e, depois de contar e conferir tudo, ele<br />
disse:<br />
— O doutor Tomás pediu-me para avisá-la que virá esta noite fazer uma visita para a senhora. Pediu-me que lhe dissesse para<br />
esperá-lo.<br />
Jeanne fez um sinal afirmativo com a cabeça e falou:<br />
— Pois diga ao senhor Tomás que eu estarei à sua espera... Esta noite ou qualquer outra que ele queira.<br />
Depois que o emissário de Tomás Camargo foi embora, Jeanne sentiu vontade de dançar de alegria.