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CAPÍTULO 19<br />

Se a vida de Sylvia sofrera uma modificação radical, a de Tomás também mudara e muito.<br />

De repente, ele se conscientizara de que tinha uma filha e de que isso era muitíssimo importante em sua existência, talvez o fato mais<br />

importante de todos.<br />

Seu relacionamento com Jeanne, que já estava muito diferente do que era no início, parecia se deteriorar a cada dia, os dois<br />

discutindo com frequência e não conseguindo chegar a nenhum entendimento em quase todos os aspectos da vida quotidiana.<br />

Provavelmente, num relacionamento normal, com uma mulher normal, as coisas tivessem estourado desde que Tomás voltara do Rio<br />

de Janeiro. Porém, Jeanne estava longe de poder ser considerada como normal. Para ela, o que interessava era o dinheiro, a posição<br />

conquistada, o respeito — e por que não dizer? — o temor que inspirava em todas as outras pessoas.<br />

Assim, ela foi se distanciando de Tomás, foi mostrando claramente quais eram os seus verdadeiros interesses naquele relacionamento e...<br />

Chegou ao ponto em que passaram a dormir em quartos separados.<br />

Não houve uma briga, uma discussão mais séria que a forçasse a tomar essa decisão. Tampouco o casal teve uma longa conversa em<br />

que se chegasse à conclusão que, para o bem da união entre os dois e para o bem da convivência pacífica naquela casa, o ideal seria<br />

cada um fazer a sua vida e, logicamente, passarem a dormir em quartos separados. Nada disso aconteceu. Foi algo natural. Fazia já<br />

alguns meses que eles já nem se encontravam mais, Tomás sempre com muitas coisas para fazer e Jeanne, por sua vez, ocupadíssima<br />

com suas atividades sociais. Muitas noites, chegando tarde em casa, Tomás dormira no quarto de hóspedes não apenas para não<br />

incomodar a mulher com a sua entrada tardia no quarto do<br />

casal, mas principalmente para não correr o risco de ter de conversar com ela, ou de ter de arrumar explicações que lhe seriam<br />

penosas. E mentirosas.<br />

Sim...<br />

Muitas dessas noites que Tomás chegara tarde, ele não estivera em outro lugar senão no apartamento de Sylvia, conversando com<br />

ela e vendo sua filhinha, tendo o prazer de pô-la<br />

para dormir, de vê-la adormecer como um anjinho, a chupeta na boca, a mãozinha segurando uma ponta de fralda...<br />

— Ela só dorme assim — dizia a mãe — Se não estiver segurando uma fralda, não consegue adormecer...<br />

Depois que Simone dormia, os dois ficavam conversando na sala, falando sobre as atividades do dia. Tomás sentia-se bem ali,<br />

naquele apartamento pequeno, com móveis simples e sem nenhum requinte.<br />

Muitas e muitas noites ele teve vontade de dizer para Sylvia que se mudaria em definitivo para sua casa, que mandaria Jeanne para<br />

o inferno e que se danasse o inevitável escândalo.<br />

Mas, o comportamento de Sylvia o impedia.<br />

Ela o tratava muito bem, era carinhosa, meiga, sempre tinha um prato de bolo ou de salgadinhos para ele mas...<br />

Não permitia a menor aproximação.<br />

Certa vez, quando ele tentara, Sylvia se afastou, dizendo:<br />

— Não, Tomás. Não quero. Não quero voltar a me apaixonar e não quero alimentar qualquer esperança. Não fui feita para você.<br />

Deixe-me em paz com a minha filha, continue a ser como tem sido, por favor... Imagine que você e eu somos um casal separado. Nada<br />

mais do que isso.<br />

Não era exatamente o que Tomás gostaria de ter ouvido mas, raciocinando mais friamente, ele chegou à conclusão que Sylvia estava<br />

com a razão. Os dois podiam se dar muito bem na cama mas, Sylvia jamais se adaptaria à vida de sociedade que seria obrigada a ter<br />

se estivesse casada com ele.<br />

Além disso, havia Jeanne...<br />

Jeanne o intimidava...<br />

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