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Trancou-se em seu quarto pois não queria que a empregada aparecesse e a apanhasse com a mão na massa, apanhou uma folha de<br />
papel e uma tesoura e recortou um boneco de saias, mentalizando enquanto realizava esse trabalho, o nome e a fisionomia de Regina.<br />
Em seguida, acendeu uma vela e aproximou o boneco da chama. Quando ele começou a queimar, ela disse:<br />
— A ele que castiga, a ele que tem o poder, a ele que é o Senhor do Mal, a ele e a todos os seus súditos... Levai a dor para essa<br />
maldita!<br />
Precisamente nesse instante, Jeanne escutou um trovão.<br />
Ergueu a cabeça e olhou pela janela, para o dia que terminava, claro, límpido, sem uma só nuvem no céu.<br />
Sorriu.<br />
Sabia que não tinha sido um trovão, mas tão somente o sinal enviado por Satã para lhe dizer que estaria propiciando o castigo para<br />
Regina.<br />
Jeanne recolheu as cinzas que restaram do boneco, apagou a vela e atirou tudo pela janela.<br />
Poderia dormir tranquila, aquela noite...<br />
Tinha a certeza de que pela manhã, receberia notícias da mulher. E era mais do que evidente que não seriam notícia s das melhores.<br />
Com toda a calma, começou a se despir.<br />
Queria tomar um banho e se perfumar, queria estar linda e desejável para quando Tomás chegasse.<br />
Jeanne achava que, depois do Príncipe das Trevas, se havia alguém que merecesse um prêmio, um sinal de gratidão, esse alguém<br />
tinha de ser Tomás Camargo.<br />
E ela tinha certeza de poder premiá-lo em grande estilo, sabia muito bem que poderia fazê-lo ficar mais do que satisfeito.<br />
*******<br />
Já passava de dez horas da noite quando Tomás chegou.<br />
Estava sorridente, parecia extremamente feliz e, depois de beijar Jeanne como somente os apaixonados sabem fazer, ele perguntou:<br />
— E então? Ficou satisfeita com a surpresa?<br />
— Mas é claro, querido — respondeu a mulher — Se você soubesse como eu me afligi desde que o Banco fechou...<br />
Ajudando-o a tirar o paletó, Jeanne completou:<br />
— Mas eu teria ficado tranquila se soubesse que você seria nomeado interventor... Tenho certeza que jamais me deixaria na mão!<br />
Aceitando o drinque que Jeanne preparara para ele, Tomás falou:<br />
— Nem eu mesmo sabia dessa decisão do Governo. Fui apanhado de surpresa com essa nomeação.<br />
Abriu um sorriso, apanhou um salgadinho que Serafina viera servir e murmurou:<br />
— São coisas inexplicáveis, Jeanne... Quando cheguei ao Banco, pela manhã, nem tinha idéia do que deveria fazer. Tudo estava uma<br />
confusão infernal, ninguém entendia ninguém, o povo querendo entrar ainda que à força e a Polícia contendo as pessoas à custa de<br />
cassetetes.<br />
Tomou um gole da bebida e continuou:<br />
— E eu estava ali dentro, sem jamais ter sido banqueiro, sem ter a menor experiência de administração de uma casa bancária, ainda<br />
por cima, uma casa bancária falida.<br />
Sorriu e disse:<br />
— Mais para não ficar sem fazer nada, mais para dar uma satisfação aos funcionários que ali estavam, aflitos e ansiosos, pedi para<br />
que me levassem ao arquivo de fichas de correntistas. Abri uma gaveta e a primeira ficha que apanhei, foi justamente a<br />
sua...<br />
Ergueu os ombros e arrematou: