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Um dia, Sylvia conheceu Jeanne.<br />
A francesa precisara de uma assinatura do marido e fora atrás dele no escritório.<br />
Ficou impressionada com a beleza de Jeanne, achou-a linda, perfeita, até mesmo simpática...<br />
Porém, havia alguma coisa nela que a amedrontava e que a fez sentir um desejo imenso de fugir dali.<br />
Não soube dizer, de imediato, o que a impressionava tão negativamente mas, quando Jeanne saiu da sala de Tomás e, ao passar por<br />
sua mesa olhou-a, Sylvia teve certeza de que havia uma aura de negatividade e de maldade ao redor de seu corpo.<br />
Uma aura que explicava muito bem por que Mãe Antônia dissera para tomar cuidado e que mostrava por que Tomás deixava ver que<br />
sentia tanto medo da mulher.<br />
118<br />
CAPÍTULO 20<br />
E, de fato, Jeanne fazia medo a todas as pessoas que, de uma maneira ou de outra, tinham contato com ela.<br />
Ao contrário do que acontece na maioria das vezes, o amadurecimento não pusera em Jeanne o menor traço de compreensão, o<br />
menor resquício de entendimento ou, que fosse, de cumplicidade com a vida. Muito pelo contrário, ela estava cada vez mais dura e mais<br />
fria, seu olhar mais calculista e seus lábios, já muito finos por natureza, estavam transformados em apenas duas linhas delimitando a<br />
boca, o que lhe dava um aspecto de extrema maldade.<br />
É claro que ela conservara suas linhas, que mantivera o corpo em excelente forma e, assim, sua sensualidade aparecia e saltava aos<br />
olhos, exacerbada pelos cabelos muito vermelhos que lhe emprestavam uma aparência diabólica, exatamente aquela aparência de<br />
sedução e de tentação que se vê nas gravuras da Renascença quando os grandes mestres queriam representar o Inferno e as almas que<br />
ali penavam.<br />
Em conversas à meia voz, os homens que a conheciam eram obrigados a admitir que era uma mulher bonita, desejável e que teria<br />
todo o potencial de transformar uma noite de amor em algo inesquecível. Mas, todos eles concordavam que havia em Jeanne, alguma<br />
coisa que os intimidava e que os fazia nem mesmo tentar uma aproximação maior.<br />
— Acho que são aqueles olhos — diziam uns — Eles me amedrontam!<br />
— São seus lábios — afirmavam outros — Não seria capaz de beijá-los!<br />
— É a sua aura — falavam os mais místicos — Não é uma aura boa! Jeanne exala maldade, recende perversidade!<br />
Talvez estes estivessem mais certos.<br />
Jeanne, de fato, mostrava por todos os poros, em todos os seus movimentos, que era má, perversa, ambiciosa e, acima de tudo,<br />
egoísta. Para ela, só existia a sua pessoa, só existia a sua satisfação e mais nada. Não estava preocupada se, para atingir um seu<br />
objetivo, era obrigada a aniquilar com meia dúzia ou uma centena de outros. O que importava era ela poder dizer que tinha vencido.<br />
E Jeanne dispunha de recursos para conseguir o que bem quisesse. Recursos materiais e intelectuais pois, apesar de não ter tido<br />
quase nenhuma escola, ela era suficientemente esperta e inteligente para aprender, por conta própria, o mínimo necessário para se<br />
impor aos outros.<br />
É claro que, no dia-a-dia, sempre há de aparecer, para quem quer que seja, alguém com mais capacidade e com mais valor...<br />
Isso também ocorria com Jeanne. E era nessas ocasiões que ela mostrava exatamente quem era e de que era capaz para derrotar o<br />
adversário.<br />
Adversário!