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Sentou-se na beirada de sua cama para não cair e, nesse momento, o quarto inteiro começou a girar, a girar cada vez mais depressa.<br />

Aos poucos, as imagens borradas em que tudo se tinha transformado, foram tomando novamente forma e sentido e Jeanne se viu na sala<br />

de estar da casa de Leila e Norberto. Percebeu que não estava ali fisicamente mas sim espiritualmente e que o casal não podia vê-la.<br />

Norberto estava de pé e Leila, sentada em uma ponta do sofá, parecendo muito nervosa e irada.<br />

—Mas como?! — fez a moça — Você teve a coragem de ir procurar Jeanne e pedir-lhe para não mais se encontrar comigo?!<br />

Balançando a cabeça negativamente, exclamou:<br />

— Não! Eu não posso acreditar que você tenha feito uma coisa dessas!<br />

— Mas fiz! — falou Norberto — E fiz pensando em você, pensando em nosso casamento, pensando em preservar nossa união e nossa<br />

família!<br />

Leila ficou calada, olhando longamente para o marido. Por fim, depois de quase um minuto, durante o qual Jeanne pode sentir toda<br />

a raiva e toda a tensão que havia entre os dois, ela disse:<br />

— Pois você fez muito mal. Errou redondamente...<br />

Separando bem as sílabas, completou:<br />

— Não sou sua escrava. Você está enganado se achou que poderia mandar até mesmo nas minhas amizades... Vou me separar de<br />

você e agora mesmo!<br />

Leila se levantou e caminhou, com passo decidido, para o quarto do casal.<br />

Norberto, atônito por um instante, seguiu-a, perguntando, com voz aflita:<br />

— Mas o que vai fazer? O que está pensando, desgraçada?!<br />

Leila tirou de um armário uma grande mala de viagem e começou a arrumar suas roupas.<br />

— Pare com isso! — quase gritou Norberto — Não seja idiota!<br />

Leila olhou para ele de maneira desafiadora e replicou:<br />

— Pois é por não ser uma idiota... Exatamente por isso que eu vou embora! Já estou farta de ser dominada, mandada, de não ter<br />

vontade própria! Para mim chega! Vou embora e vou procurar um advogado amanhã de manhã!<br />

Norberto perdeu a cabeça. Abrindo a gaveta do criado-mudo, apanhou o revólver e disse:<br />

— Você vai pôr essas roupas no armário... e já!<br />

Leila olhou com desprezo para o marido e continuou a arrumar a mala.<br />

Norberto engatilhou a arma.<br />

— Vou cometer uma loucura! — disse ele — Pelo amor de Deus, pare com isso!<br />

Leila não respondeu. Continuando a dobrar suas roupas e a metê-las na mala, ela<br />

voltou para o armário para apanhar outros vestidos.<br />

Norberto se pôs à sua frente. Leila o empurrou.<br />

O dedo, no gatilho da arma, resvalou...<br />

Ouviu-se um estampido, a cabeça de Leila foi chicoteada para trás e a moça caiu no chão, já morta, a testa perfurada pela bala de<br />

calibre trinta e oito...<br />

Norberto olhou para o corpo da mulher estendido sobre o tapete do quarto, o sangue saindo pelo ferimento...<br />

Esbugalhou os olhos e balbuciou:<br />

— Meu Deus... Eu a matei...<br />

Alucinado, ergueu novamente a mão armada, desta vez apontando o revólver para o ouvido direito.<br />

Puxou o gatilho...<br />

O quarto começou novamente a girar e, quando Jeanne se deu conta, ela estava outra vez em sua casa.<br />

Era de manhã e o telefone soava.<br />

Ouviu Serafina atender e, momentos depois, a empregada batia à porta do quarto.<br />

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