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Tremeu com um ruído surdo, com um barulho que parecia ser uma trovoada, só que ela não vinha do alto mas sim do chão, das<br />

entranhas da Terra...<br />

Mais uma vez, o vento quente e fétido soprou e a moça, apavorada, por pouco não ajoelhou, tremendo de medo.<br />

Porém, ela se dominou e prosseguiu com o ritual.<br />

Abaixando-se, apanhou um punhado de terra, jogou-o para cima e gritou:<br />

— Forças do Universo! Levai a Satã meu pedido! Fazei com que ele me atenda e trazei-o à minha presença!<br />

Nesse momento, as velas negras que Jeanne trouxera e arrumara sobre a mesa, sem que ninguém tocasse nelas, acenderam-se.<br />

A moça arregalou os olhos e, por um breve instante, pensou em fugir dali, em correr para longe daquele lugar e daquelas coisas que<br />

estava fazendo.<br />

Mas, Jeanne estava paralisada.<br />

Percebeu que, mesmo que quisesse, não se moveria dali pois suas pernas não a obedeceriam.<br />

O chão estremeceu mais uma vez e a corda, criando vida, começou a se erguer da mesa como se fosse uma cobra encantada por um<br />

hindu...<br />

Uma explosão abafada se fez ouvir, um clarão iluminou a mesa e Jeanne viu que um homem se materializava diante de seus olhos.<br />

Era o homem que lhe aparecera na bola de cristal e tinha os mesmos lábios finos e maldosos, o mesmo sorriso irônico e carregado de<br />

malícia.<br />

Desta vez, porém, Jeanne podia ver seus cabelos, muito negros e a cor de sua pele, de um moreno queimado. Pode ver seus olhos,<br />

muito vivos, escuros, rasgados e brilhantes, olhos que pareciam enxergar muito além, que pareciam atravessar a sua alma e penetrar<br />

no mais oculto de seus pensamentos.<br />

Sentiu medo, muito medo...<br />

Achou que desmaiaria, seus joelhos balançavam e batiam um contra o outro como se fossem castanholas mas, mesmo assim, mesmo<br />

nesse estado de pavor, ela sentia que não deveria se afastar dali, percebia que se quisesse realmente mudar a sua vida, aquela era a<br />

única e, possivelmente, a última oportunidade. E Jeanne não a perderia por nada neste mundo.<br />

*******<br />

Jeanne lutou contra o medo e venceu.<br />

Aos poucos, a tremedeira foi passando e ela começou a perceber que readquiria a auto-confiança e que poderia enfrentar o que<br />

estava para vir.<br />

— Você me chamou — disse o homem — E isso me faz muito contente! Já faz algum tempo que desejo falar consigo.<br />

Antes que Jeanne pudesse abrir a boca, ele continuou:<br />

— Você não está vestida adequadamente...<br />

Era um comentário comum, o tipo de comentário que um marido faz para a esposa quando ela se apronta para uma festa e veste algo<br />

de que ele não goste. A trivialidade das palavras de Satã deram mais coragem a Jeanne que, prontamente, replicou:<br />

— Não vi nada a respeito de roupas adequadas ou inadequadas para um encontro com você. E, de mais a mais, como é que queria<br />

que eu me vestisse, com a barriga deste tamanho?!<br />

Satã ampliou o sorriso e disse:<br />

— Está certo... Mas não será por muito tempo. Você logo estará livre desse transtorno.<br />

Estendeu a mão para a frente e tocou o rosto de Jeanne.<br />

Ela sentiu o calor de sua pele, sentiu uma estranha e quase incontrolável excitação.<br />

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