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Os móveis eram rústicos mas muito confortáveis, estofados em couro e incrivelmente conservados. Não havia qualquer tapete no<br />

chão de pedras polidas pelo uso e Jeanne não pode deixar de pensar que, durante o inverno, aquela casa deveria ser muito<br />

fria.<br />

Olhando para cima, ela viu que não havia forro, as telhas aparentes estavam enegrecidas pela fuligem. Aquilo, apesar de dar um<br />

aspecto de extrema miséria ao bangalô, era pitoresco e romântico e ela pensou que um lugar como aquele deveria ser um maravilhoso<br />

ninho de amor.<br />

Gabrielle reapareceu na sala com o chá e, sentando-se diante de Jeanne, falou:<br />

— Você ficará bem aqui comigo, querida... E pode acreditar que ninguém virá incomodá-la.<br />

Ficou subitamente séria e completou:<br />

— E quem aparecer para lhe tirar a paz, acabará muito mal...<br />

*******<br />

Jeanne olhou para a mulher.<br />

Não poderia dizer que sua expressão, que seu rosto fosse cruel.<br />

Muito pelo contrário.<br />

Seus olhos, cor de caramelo, eram bondosos, sua boca de lábios encarquilhados pareciam estar sempre sorrindo e seus cabelos,<br />

muito brancos, escapando por baixo de um lenço de cor indefinida, emolduravam-lhe o rosto, transmitindo uma impressão de bondade<br />

e de delicadeza.<br />

Sim... Era uma velha bonita.<br />

Talvez, quando ainda estivesse na flor da idade, ela tivesse sido uma mulher linda e atraente, uma mulher que os homens desejaram<br />

e que, mais tarde, por razões que somente o Destino poderia explicar, acabara sozinha, numa casa no meio da floresta, falando coisas<br />

estranhas, cercada por objetos exóticos e adivinhando os pensamentos das pessoas que chegavam até ali.<br />

Gabrielle serviu chá para os três e, dirigindo-se a Louis, falou:<br />

— Obrigada por ter atendido ao meu pedido... Obrigada por ter trazido Jeanne.<br />

Louis ia abrindo a boca para dizer que ela não lhe havia pedido coisa nenhuma, que nem sequer tinha se encontrado com Gabrielle<br />

havia mais de uma semana, porém achou melhor ficar quieto. Para aquela velha, qualquer coisa era perfeitamente possível, por mais<br />

absurda que pudesse parecer.<br />

Assim, engoliu o chá, meteu na boca alguns biscoitos e, levantando-se, disse, afobado:<br />

— Tenho de ir... Se precisarem de alguma coisa...<br />

Ia dizer que bastaria chamar mas lembrou-se a tempo que ali, onde Gabrielle vivia, não havia qualquer sistema de comunicação que<br />

não fosse o telefone em Randan o que queria dizer uma distância bem respeitável.<br />

Gabrielle sorriu, agradeceu com um sinal de cabeça e murmurou:<br />

— Não se preocupe, Louis... Nós estaremos bem. E, de qual- quer maneira, se precisarmos de algo, você saberá imediatamente...<br />

Louis esboçou um sorriso — Não sabia por que sempre ficava tão impressionado com Gabrielle, já deveria estar mais do que<br />

acostumado com suas manias — despediu-se de Jeanne e, em passos apressados, voltou para onde deixara o caminhão.<br />

Vendo-o se afastar, Gabrielle murmurou:<br />

— É uma boa alma... Uma excelente pessoa...<br />

E, rindo, acrescentou:<br />

— Mas ainda não conseguiu se acostumar comigo! Conhece-me desde que nasceu, ajudei-o a vir ao mundo... Mas, mesmo assim,<br />

ainda não se habituou com essas banalidades que ele chama de prodígios!<br />

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