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Jeanne considerava como inimigo, como adversário, todo aquele que não concordasse com sua opinião e que não abaixasse a Cabeça<br />
enquanto ela estivesse falando. Afinal, ela era a rainha e tinha de ser tratada como tal.<br />
Mas...<br />
Havia aqueles que não se deixavam dobrar e que insistiam em ter sua opinião própria. Ou, então, que tentavam desmoralizá-la,<br />
mostrando que Jeanne estava falando coisas que não sabia ou simplesmente, fazendo ver que ela não era a infalível que fazia questão<br />
de mostrar.<br />
Contra esses, a fúria e a ira de Jeanne eram terríveis.<br />
Com muita classe, com muita superioridade, ela fazia questão de não discutir em público, de não contradizer ninguém e, assim, não<br />
dar margem a que a conversa se esticasse. Deixava que aquele que a contradissera pensasse ter saboreado a vitória.<br />
E, então, quando ela chegava em casa, trancava-se em seu quarto e começava a fazer seus encantamentos.<br />
Escrevia num pedaço de papel o nome da pessoa que a aborrecera, dobrava-o em quatro e deixava-o sobre a mesinha de cabeceira.<br />
Em seguida, com uma faca de ponta, desenhava no ar um círculo ligando-o a um outro desenho que fazia, um oito deitado, o símbolo<br />
matemático do infinito. Jogava a faca no chão e, com os pés, arrastando-os sobre o tapete, traçava um outro círculo e sentava-se no<br />
centro do mesmo, à maneira hindu. Apanhava o papel, punha-o à sua frente e se concentrava em alguma coisa ruim para acontecer a<br />
essa pessoa.<br />
Não era preciso mais...<br />
No dia seguinte, quando não no mesmo dia, ela tinha notícias de seu desafeto. Normalmente, as piores possíveis.<br />
Na verdade, era muito raro ela não conseguir causar mal às pessoas que quisesse prejudicar.<br />
Contudo, ela não era infalível e, às vezes, seus poderes pareciam ser insuficientes para atingir um determinado indivíduo.<br />
Nesses casos, Jeanne recorria ao seu Mestre.<br />
Invocava o Príncipe das Trevas e pedia-lhe que a ajudasse com algum feitiço mais forte e mais eficaz.<br />
Satã jamais se recusou.<br />
Ela pedia, ele a ensinava como fazer e, em poucas horas, a vítima era atingida.<br />
Na maioria das vezes, de modo fulminante.<br />
Como aconteceu com o marido de uma sua amiga, um homem que ostensivamente não apreciava Jeanne e que não gostava nem um<br />
pouco de ver sua mulher andando para baixo e para cima com a francesa.<br />
*******<br />
Norberto já tinha dito para Leila que não achava graça nenhuma naquela amizade.<br />
— Jeanne não é como nós — dissera ele — Ela pertence a um mundo diferente, tem uma cultura e uma educação que não combinam<br />
nem um pouquinho com a nossa maneira de viver e de ver as coisas.<br />
E, com uma expressão sombria, acrescentava:<br />
— Além do mais, o olhar dessa mulher... Ela me faz medo! Ela me lembra as histórias que minha avó contava quando eu era pequeno,<br />
sobre as bruxas que comiam criancinhas!<br />
Leila ria dos temores de seu marido e, teimosa, continuava a andar com Jeanne, a ir para todos os lugares com ela, fazendo-lhe todas<br />
as vontades, chegando às vezes a parecer sua empregada.<br />
— Não está percebendo que essa mulher está usando a sua boa vontade? — perguntou, irritado o marido, uma vez que Leila tinha<br />
sido obrigada a ir até o Embu com Jeanne pois esta ouvira dizer que lá havia um hábil entalhador de madeira.<br />
— Eu fui por que quis — retrucou Leila, já aborrecida com as maneiras de Norberto — E pode estar certo que gostei muito de ter ido!<br />
Norberto olhou furioso para a mulher e rosnou:<br />
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