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CAPÍTULO 21<br />
— Não posso acreditar no que você está me dizendo, Marly! — exclamou Jeanne — Simplesmente não posso acreditar!<br />
Marly sorriu com superioridade. Era extremamente agradável para ela poder falar assim com Jeanne, poder olhá-la de cima, pela<br />
primeira vez vendo aquela fortaleza toda em vias de ruir. A francesa tinha feito a mesma coisa tantas vezes, com tantas delas!<br />
Tripudiara sobre os sentimentos de quase todas as amigas, aproveitara-se de seus momentos de fragilidade...<br />
Agora, chegara a sua vez...<br />
Marly lembrou com amargura o dia em que Jeanne fora à sua casa para provar que Paulo, seu marido, mantinha um caso com a<br />
secretária.<br />
Era verdade que a própria Marly já desconfiava disso. Mas, por comodismo, por conformismo, preferira nada dizer a Paulo e nem a<br />
ninguém. Mas Jeanne descobrira. Descobrira e, como um paladino dos direitos femininos e feministas, ela fizera questão<br />
de mostrar para Marly as provas, fizera questão de falar sobre o caso diante de todas as outras e com uma tal força de opinião que<br />
Marly acabou obrigada a assumir uma posição.<br />
O resultado fora trágico...<br />
Paulo, acuado, pressionado, preferira a separação e, a despeito da gorda pensão e da partilha de bens que a favorecera, Marly ficara<br />
sem o marido, fora relegada ao clube das mulheres desquitadas.<br />
Pior que isso, das mulheres que tinham sido trocadas pelas secretárias de seus maridos.<br />
Um clube com muitas sócias, todas elas amargas, revoltadas, frustradas.<br />
Jeanne tinha sido a culpada...<br />
Mas...<br />
Nada melhor do que o tempo!<br />
Ali estava a francesa, todo o seu sarcasmo deixado de lado, todo o seu orgulho derrubado...<br />
Sim...<br />
Jeanne era a próxima candidata a uma cadeira no clube.<br />
— Se não quer acreditar, minha querida — insistiu Marly — Não acredite... Mas fique sabendo que eu não costumo inventar coisas e,<br />
quando as conto, tenho sempre uma fonte de informações de altíssima credibilidade!<br />
Jeanne respirou fundo.<br />
— Conte outra vez — pediu ela — Talvez eu não tenha entendido direito.<br />
Marly sorriu, tomou mais um gole de chá e, com voz pausada, falou:<br />
— Você mesma comentou que Tomás não aparece em casa há vários dias... Pelo que me falou, ele estaria viajando para o Paraná,<br />
com algum negócio a respeito de exportação de café. Pois não é nada disso. Há três semanas atrás, Tomás estava bêbado e foi<br />
encontrado, quase desmaiado num bar na Avenida Ipiranga, por três de seus antigos amigos. Tenho certeza dos nomes, se quiser,<br />
poderemos averiguar... Nelson, Sidney e Max, acharam-no<br />
nesse estado deplorável e quiseram levá-lo para casa.<br />
Marly fez uma pausa proposital para que Jeanne absorvesse bem suas palavras e para que desse maior valor ao que vinha em<br />
seguida. Tomando fôlego, ela continuou:<br />
— Parece que Tomás recobrou um pouco de sua consciência e disse que não queria vir para cá. Não queria mais voltar para este<br />
apartamento.<br />
Marly fixou os olhos de Jeanne e notou que, pela primeira vez, conseguia sustentar o seu olhar. Com um sorriso que não conseguiu<br />
disfarçar, ela disse: