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A construção de um projeto de educação bilíngue para

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Quando nós entramos a maior parte nunca tinha visto surdo na vida (...) e<br />

aí foi <strong>um</strong> embate com as pessoas que tinham feito curso <strong>de</strong> especialização<br />

<strong>de</strong>ntro do INES, mas que não tinham feito curso universitário e que<br />

trabalhavam no INES há 30, 35 anos. (...) E essas pessoas que entraram<br />

nesse concurso tinham experiências anteriores <strong>de</strong> escolas, mas não<br />

tinham em relação à sur<strong>de</strong>z. Então foi <strong>um</strong> choque... Uns estavam lá com a<br />

experiência <strong>de</strong> anos e outros chegaram mais fortes aca<strong>de</strong>micamente, com<br />

mais estudo e com outras experiências <strong>de</strong> escola regular. (...) Então esse<br />

embate foi muito forte com as novas professoras que chegaram [grifo<br />

meu], pois a maior parte era jovem: entusiasmo, experiências em<br />

<strong>educação</strong> infantil, e em outros lugares, leitura e festas. E as pessoas ali<br />

(...) eram senhoras acomodadas... Seguiam como Bíblia o livro: “Manual<br />

da criança surda” <strong>de</strong> Ana Rímoli, a única referência <strong>de</strong>las.<br />

Po<strong>de</strong>mos compreen<strong>de</strong>r esses embates travados entre os professores “antigos” e os<br />

“novos”, apoiando-nos na visão teórica <strong>de</strong> Pierre Bourdieu, que faz alusão aos conflitos no<br />

campo social quando existe <strong>um</strong>a discrepância acentuada <strong>de</strong> vol<strong>um</strong>e <strong>de</strong> capital cultural<br />

entre os agentes.<br />

Para Bourdieu (1979, p.3-6 apud Nogueira & Nogueira, 2006, p.74), o capital<br />

cultural po<strong>de</strong> existir sob três formas, a saber:<br />

(...) no estado incorporado, ou seja, sob a forma <strong>de</strong> disposições duráveis<br />

do organismo; no estado objetivado, sob a forma <strong>de</strong> bens culturais –<br />

quadros, livros, dicionários, instr<strong>um</strong>entos, máquinas (...) e, enfim, no<br />

estado institucionalizado (...) como se observa em relação ao certificado<br />

escolar (...)<br />

Desta forma, os professores que ingressaram no INES em 1980, portando <strong>um</strong>a<br />

certidão <strong>de</strong> competência cultural, o diploma universitário, apresentavam <strong>um</strong> conhecimento<br />

legitimado pela socieda<strong>de</strong>, valor esse não atribuído em igual escala ao conhecimento<br />

experiencial adquirido pelos professores que trabalhavam no INES há mais <strong>de</strong> trinta anos.<br />

Nesse sentido, a titulação acadêmica dos professores novos outorgava-lhe <strong>um</strong><br />

“reconhecimento institucional” que se traduzia no campo social como <strong>um</strong>a forma <strong>de</strong><br />

alcançar posições privilegiadas neste espaço.<br />

Os embates travavam-se também em função <strong>de</strong> diferentes concepções <strong>de</strong> ensino, já<br />

que os professores “novos” colocavam em xeque o ensino tradicional ministrado pelos<br />

professores “antigos”, cujo foco do processo pedagógico estava no professor. Estas<br />

concepções, portanto, po<strong>de</strong>m ser produto <strong>de</strong> habitus coletivos que se antagonizavam. Para<br />

Bonnewitz (2003, p.77), o sentido que Bourdieu atribui ao conceito <strong>de</strong> habitus é:<br />

(...) sistema <strong>de</strong> disposições duradouras adquirido pelo indivíduo durante o<br />

processo <strong>de</strong> socialização. As disposições são atitu<strong>de</strong>s, inclinações <strong>para</strong><br />

perceber, sentir, fazer e pensar, interiorizadas pelos indivíduos em razão<br />

<strong>de</strong> suas condições objetivas <strong>de</strong> existência, e que funcionam então como<br />

princípios inconscientes <strong>de</strong> ação, percepção e reflexão.<br />

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