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A construção de um projeto de educação bilíngue para

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problematiza essas memórias coletivas que fazem parte do escopo do referencial teórico da<br />

maioria dos estudiosos da sur<strong>de</strong>z a partir da década <strong>de</strong> 1990.<br />

Para Hobsbawm (1996) o trabalho do historiador em tentar “<strong>de</strong>slegitimar<br />

memórias” é extremamente difícil já que implica n<strong>um</strong> esforço <strong>de</strong> distanciamento crítico<br />

dos fatos históricos que põem em xeque tradições que são compartilhadas por grupos<br />

durante <strong>um</strong> longo período <strong>de</strong> tempo.<br />

Por tradição inventada o autor enten<strong>de</strong>:<br />

(...) <strong>um</strong> conjunto <strong>de</strong> práticas, normalmente reguladas por regras tácita ou<br />

abertamente aceitas; tais práticas, <strong>de</strong> natureza ritual ou simbólica, visam<br />

inculcar certos valores e normas <strong>de</strong> comportamento através da repetição,<br />

o que implica, automaticamente, <strong>um</strong>a continuida<strong>de</strong> com o passado<br />

histórico apropriado (HOBSBAWM, 1996, p.9).<br />

Assim, Rocha ao se <strong>de</strong>bruçar nas atas do Congresso <strong>de</strong> Milão e tendo analisado que<br />

as discussões giravam predominantemente em torno <strong>de</strong> metodologias <strong>para</strong> ensino <strong>de</strong><br />

surdos, acaba por enten<strong>de</strong>r que o oralismo evocado na memória <strong>de</strong> grupos envolvidos na<br />

<strong>educação</strong> <strong>de</strong> surdos não se constituiu em <strong>um</strong> <strong>para</strong>digma na <strong>educação</strong> <strong>de</strong> surdos.<br />

Soares (2003, p.1) parece também comungar <strong>de</strong>sse pensamento ao <strong>de</strong>finir o<br />

oralismo como método e processo<br />

(...) pelo qual se preten<strong>de</strong> capacitar o surdo na compreensão e na<br />

produção <strong>de</strong> linguagem oral e que parte do princípio <strong>de</strong> que o indivíduo<br />

surdo, mesmo não possuindo o nível <strong>de</strong> audição <strong>para</strong> receber os sons da<br />

fala, po<strong>de</strong> se constituir em interlocutor por meio da linguagem oral.<br />

Contrapondo-se à visão das autoras citadas, Skliar (1997), alerta que reduzir a<br />

<strong>educação</strong> <strong>de</strong> surdos a questões <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m puramente metodológicas é <strong>de</strong>sprezar as<br />

condicionantes históricas que inscrevem os acontecimentos em relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, em<br />

disputas <strong>de</strong> grupos que se rivalizam na luta pela hegemonia das concepções e visões <strong>de</strong><br />

mundo. Nesse sentido, <strong>para</strong> o autor:<br />

O oralismo foi e continua sendo hoje, em boa parte do mundo, a<br />

i<strong>de</strong>ologia dominante <strong>de</strong>ntro da <strong>educação</strong> <strong>de</strong> surdos. A concepção <strong>de</strong><br />

indivíduo surdo refere-se, unicamente, a <strong>um</strong>a dimensão clínica – a<br />

sur<strong>de</strong>z como <strong>de</strong>ficiência, os surdos como doentes – <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>um</strong>a<br />

perspectiva terapêutica, os surdos <strong>de</strong>vem ser reeducados e/ou<br />

curados (SKLIAR, 1997, p.34).<br />

Avançando-se na discussão sobre as reais intenções do Congresso <strong>de</strong> Milão, se<br />

orquestradas pela i<strong>de</strong>ologia oralista ou pela simples consulta a métodos <strong>de</strong> ensino, tal como<br />

foi apresentado anteriormente, o que se tem concretamente a partir do evento, <strong>de</strong> <strong>um</strong> modo<br />

geral, é a prevalência da <strong>educação</strong> <strong>de</strong> surdos polarizada e operada <strong>de</strong> maneira dicotômica<br />

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