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A construção de um projeto de educação bilíngue para

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Carlos Skliar enten<strong>de</strong>u o convite da escola como <strong>um</strong>a vonta<strong>de</strong> “política” da<br />

instituição se rever, rever suas concepções, rever seu currículo. Encontramos esse<br />

pensamento na transcrição <strong>de</strong> <strong>um</strong>a <strong>de</strong> suas consultorias 86 no INES:<br />

Uma proposta pedagógica é sobretudo <strong>um</strong>a proposta política. „Política‟<br />

no sentido <strong>de</strong> termos <strong>um</strong>a concepção <strong>de</strong>sse sujeito h<strong>um</strong>ano, „política‟<br />

porque recortamos as informações <strong>para</strong> passar aos alunos, „política‟<br />

porque imaginamos esses alunos no futuro, „política‟ porque<br />

estabelecemos vinculações entre pedagogia e trabalho: tudo isso é <strong>projeto</strong><br />

político, não é <strong>projeto</strong> técnico. (INES, 1998)<br />

Desta forma, <strong>para</strong> Carlos Skliar, ao se pensar em <strong>um</strong>a proposta <strong>bilíngue</strong> em termos<br />

<strong>de</strong> filosofia <strong>de</strong> ensino, a condição sine qua non <strong>para</strong> a sua <strong>construção</strong> era a viabilização do<br />

respaldo político <strong>para</strong> que a língua <strong>de</strong> sinais fosse aprendida por todos os agentes escolares.<br />

Essas ações, na maioria das vezes, são acompanhadas por oposições <strong>de</strong> parte dos grupos<br />

conservadores. Esta oposição vinha na forma da resistência <strong>de</strong> parte do corpo docente em<br />

apren<strong>de</strong>r a língua <strong>de</strong> sinais. Isso fica claro na entrevista 87 que o pesquisador me conce<strong>de</strong>u:<br />

(...) foi muito discutido sobre as crianças especiais terem outros<br />

problemas e com isso não dava pra fazer nada e eram tantos discursos,<br />

tantos “não posso, não posso, não posso!” Então eu falava: “Vai apren<strong>de</strong>r<br />

língua <strong>de</strong> sinais e <strong>de</strong>pois a gente fala!” Naquela época eu fiquei com<br />

muita raiva [ênfase] <strong>de</strong>ssas pessoas porque eu achava que elas não<br />

queriam nada mesmo, mas o que não queriam, na verda<strong>de</strong>, era <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />

ser elas, então contra isso eu não podia! Não entendo isso, mas também<br />

não posso fazer nada se as pessoas não querem conversar com os alunos<br />

que vão educar... Eu não entendo a vocação <strong>de</strong>ssas pessoas.<br />

Para alguns professores, o fato <strong>de</strong> Carlos Skliar ter tido experiência reduzida como<br />

professor <strong>de</strong> surdos alimentava certa “<strong>de</strong>sconfiança” com relação às orientações dadas ao<br />

corpo docente acerca da prática pedagógica. Esse tipo <strong>de</strong> crítica nos diz que, <strong>para</strong> esses<br />

professores, o que mais pesava em suas representações era a falta do conhecimento<br />

experiencial do profissional, contando muito pouco a titulação acadêmica do mesmo nesse<br />

caso.<br />

Carlos Skliar também impactava os professores com seu discurso ao afirmar que<br />

“quem <strong>de</strong>fine as políticas é a comunida<strong>de</strong> institucional” e que os resultados da aplicação <strong>de</strong><br />

<strong>um</strong>a política educacional, como a <strong>bilíngue</strong>, <strong>de</strong>mandaria muitos anos <strong>para</strong> ter seus<br />

resultados avaliados. Porém, chama atenção que os resultados do oralismo, “<strong>um</strong> trabalho<br />

86 Carlos Skliar prestou assessoria no INES nos anos <strong>de</strong> 1997 e 1998. Deu essa consultoria aos professores do<br />

INES no dia 11 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1998. É importante ressaltar que todas as consultorias dadas por esse<br />

pesquisador foram transcritas revertendo-se em fonte doc<strong>um</strong>ental valiosa. Encontrei todos esses doc<strong>um</strong>entos<br />

no Arquivo Permanente do INES.<br />

87 Carlos Skliar conce<strong>de</strong>u entrevista à autora em 11 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2011.<br />

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