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A construção de um projeto de educação bilíngue para

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Os professores que ansiavam por mudanças curriculares no INES enxergavam na<br />

conscientização dos alunos como protagonistas do processo ensino-aprendizagem <strong>um</strong>a<br />

excelente tática <strong>para</strong> que as relações <strong>de</strong> força <strong>de</strong>ixassem <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sfavoráveis <strong>para</strong> eles. É a<br />

professora Q 98 quem nos relata a tática empregada por alguns docentes <strong>para</strong> agregar os<br />

alunos nas lutas concorrenciais:<br />

Então falávamos <strong>para</strong> eles: “a gente não tem po<strong>de</strong>r, como é que po<strong>de</strong>mos<br />

mudar a situação? Vocês é que têm que mudar e <strong>para</strong> isso precisam se<br />

colocar!” A gente discutia muito com eles politicamente sobre a postura<br />

<strong>de</strong>les <strong>para</strong> ver se reagiam e tomavam à frente do movimento. Eles<br />

acabaram fazendo isso, às vezes <strong>de</strong> maneiras até estranhas, mas isso não<br />

aconteceu só por nossa fala, mas <strong>de</strong>vido ao <strong>de</strong>serto que eles viviam que<br />

era tamanho: ou eles se posicionavam ou se suicidavam...<br />

Ainda que a professora não ass<strong>um</strong>a claramente a manobra política po<strong>de</strong>mos<br />

visl<strong>um</strong>brar típicos comportamentos táticos, visto que operam sorrateiramente (quase como<br />

disfarçados por <strong>um</strong> manto <strong>de</strong> invisibilida<strong>de</strong>) a fim <strong>de</strong> tentar intervir favoravelmente n<strong>um</strong>a<br />

relação <strong>de</strong> forças. E nesse caso específico, cujo objetivo era pressionar a direção pelas<br />

mudanças no ensino, a tomada da dianteira do movimento pelos alunos legitimaria com<br />

maior força a luta reivindicatória, ao passo que afastaria esses docentes do alvo das<br />

estratégias <strong>de</strong> combate dos grupos dominantes.<br />

Por sua vez, a direção pedagógica em 1991 era ocupada por <strong>um</strong>a professora que<br />

também ansiava por mudanças no ensino do INES e que, enquanto docente, já estava<br />

convencida da necessida<strong>de</strong> da entrada oficial da língua <strong>de</strong> sinais no cenário escolar. E no<br />

lugar <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r em que se encontrava po<strong>de</strong>ria provi<strong>de</strong>nciar as condições <strong>para</strong> isso <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />

usasse as estratégias a<strong>de</strong>quadas <strong>para</strong> operar as mudanças como po<strong>de</strong>mos observar pelo<br />

<strong>de</strong>poimento da ex gestora 99 :<br />

(...) a minha vonta<strong>de</strong> era dizer primeiramente assim: Língua <strong>de</strong> sinais,<br />

“liberou geral!!!”. Mas a reação era muito forte, então minha opção foi<br />

discutir <strong>educação</strong> geral que era <strong>um</strong>a coisa que eu sentia que o INES tinha<br />

pouca reflexão assim como não tinha contato com as universida<strong>de</strong>s.<br />

Ainda que o lugar <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r possibilitasse a manipulação <strong>de</strong> forças, a gestora<br />

também precisava calcular as estratégias que utilizaria <strong>de</strong> forma que fosse referendada pela<br />

maioria dos professores, caso contrário, po<strong>de</strong>ria colocar em risco a posição dominante em<br />

que se encontrava. Para isso envolveu estrategicamente toda a instituição em discussões<br />

pedagógicas que estavam em voga na <strong>educação</strong> geral: reflexões sobre concepções do<br />

processo ensino-aprendizagem que rompiam com <strong>um</strong>a visão tradicional da <strong>educação</strong> e que<br />

98 Q é professora do INES e conce<strong>de</strong>u entrevista à autora em 21 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2011.<br />

99 Essa ex diretora pedagógica conce<strong>de</strong>u entrevista à autora em 24 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2011.<br />

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