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A construção de um projeto de educação bilíngue para

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docente Geraldo Cavalcanti 26 , que fazia reuniões solicitando intérprete <strong>de</strong> língua <strong>de</strong> sinais.<br />

Segundo a professora isso já acontecia há muito anos atrás: “em 1906 tem ofícios do<br />

diretor solicitando intérprete quando alg<strong>um</strong> surdo estava em situação difícil. Quer dizer,<br />

essa história <strong>de</strong> língua <strong>de</strong> sinais é o seguinte: <strong>um</strong>a coisa é socialmente, outra coisa é ela<br />

estar oficialmente no <strong>projeto</strong> pedagógico (...)”.<br />

Assim, <strong>para</strong> a professora C não existia <strong>um</strong>a tradição oralista no INES porque, no<br />

seu enten<strong>de</strong>r, os métodos orais não estavam fundamentados por <strong>um</strong>a i<strong>de</strong>ologia que visava<br />

inscrever os surdos n<strong>um</strong> mo<strong>de</strong>lo normatizador, medicalizante e patológico. Nesse sentido,<br />

<strong>de</strong> acordo com seu ponto <strong>de</strong> vista, esses métodos se caracterizavam por <strong>um</strong>a tentativa <strong>de</strong><br />

oferecer <strong>um</strong> ensino <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>para</strong> os surdos, aproximando-os das mesmas exigências<br />

postuladas <strong>para</strong> os ouvintes: a <strong>construção</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong>a linguagem oral ou escrita. Sobre o seu<br />

<strong>de</strong>poimento ainda po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>preen<strong>de</strong>r que não havia nenh<strong>um</strong> tipo <strong>de</strong> contradição das<br />

propostas pedagógicas coexistirem com a língua <strong>de</strong> sinais.<br />

Diferentemente da docente, acredito que <strong>um</strong> método não se res<strong>um</strong>e a <strong>um</strong> conjunto<br />

abnegado <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> ensino. Desta forma este não po<strong>de</strong>ria estar <strong>de</strong>scolado <strong>de</strong> <strong>um</strong>a<br />

visão <strong>de</strong> mundo, <strong>de</strong> <strong>um</strong>a i<strong>de</strong>ologia. No caso específico da sur<strong>de</strong>z, a oralida<strong>de</strong> perseguida<br />

em vários momentos da existência do Instituto estava ligada diretamente ao <strong>para</strong>digma da<br />

mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, na busca obcecada por <strong>um</strong>a visão única <strong>de</strong> mundo, <strong>de</strong> <strong>um</strong>a maneira<br />

exclusiva <strong>de</strong> se alcançar o conhecimento. Nessa perspectiva, as subjetivida<strong>de</strong>s e<br />

singularida<strong>de</strong>s que constituem os surdos não po<strong>de</strong>riam existir e a língua <strong>de</strong> sinais não<br />

po<strong>de</strong>ria ser <strong>um</strong> instr<strong>um</strong>ento legítimo <strong>de</strong> instrução, apenas ser tolerada nas <strong>de</strong>pendências da<br />

escola, não a<strong>de</strong>ntrando, porém, as salas <strong>de</strong> aula. Assim, enxergar o oralismo como <strong>um</strong><br />

método inocente <strong>de</strong> ensino, <strong>um</strong> saber técnico-científico, é não se imiscuir no risco <strong>de</strong> <strong>um</strong>a<br />

rotulação i<strong>de</strong>ológica.<br />

Para Soares (2003), a gestão <strong>de</strong> Ana Rímoli (1951-1960) articulava o oralismo ao<br />

<strong>para</strong>digma da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, a <strong>um</strong>a visão <strong>de</strong> mundo que precisava se sedimentar entrando<br />

em conformida<strong>de</strong> com a idéia <strong>de</strong> progresso trazido pelas novas tecnologias e com o clima<br />

<strong>de</strong> otimismo que caracterizava o país nessa época. Em consonância com essa visão <strong>de</strong><br />

homem mo<strong>de</strong>rno que o Estado queria estabelecer, a escolha do método oral seria o<br />

caminho mais a<strong>de</strong>quado (e acertado), nessa perspectiva, <strong>para</strong> o ensino <strong>de</strong> surdos:<br />

26 O professor Geraldo Cavalcanti é reconhecido por muitos como <strong>um</strong> gran<strong>de</strong> mestre. Influenciou várias<br />

gerações <strong>de</strong> professores <strong>de</strong> surdos. Foi o i<strong>de</strong>alizador do método Oral Global Natural Dedutivo Direto, cujo<br />

foco principal é o <strong>de</strong>senvolvimento da linguagem. Era ligado ao Partido Comunista tendo sofrido perseguição<br />

política em vários momentos <strong>de</strong> sua longa trajetória no INES. Sempre esteve ao lado dos surdos em suas<br />

mais importantes reivindicações. Nos anos 70, em reunião com docentes do Instituto, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u a contratação<br />

<strong>de</strong> surdos <strong>para</strong> exercerem funções pedagógicas junto aos alunos. (ROCHA, 2007, p.70)<br />

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