A construção de um projeto de educação bilíngue para
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conversam com os surdos têm <strong>um</strong>a representação tranquila sobre eles, são muito criticas<br />
nas escolas e as pessoas que não conversam têm mo<strong>de</strong>los e representações totalmente<br />
truncadas. E <strong>para</strong> mim era <strong>um</strong>a luta terrível porque eu tinha vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> dizer na cara “você<br />
não consegue nem falar, nem c<strong>um</strong>primentar, nem saber o que sente a pessoa que você está<br />
conceitualizando a vida”. E eu falei muito do fracasso das instituições especiais e isso foi<br />
entendido como se eu <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>sse a inclusão...<br />
G: E o que você estava realmente pensando em termos <strong>de</strong> <strong>educação</strong> <strong>de</strong> surdos naquela<br />
época?<br />
E: Que se teria que repensar as escolas. Hoje eu não sei o que penso porque faz tempo que<br />
eu não estou pensando nisso, faz <strong>de</strong>z anos que eu já não escrevo nada sobre a sur<strong>de</strong>z...<br />
G: E por que você se afastou <strong>de</strong>ssas discussões?<br />
E: Justamente porque eu pensei que era o meu limite quando os primeiros surdos fizeram<br />
mestrado e doutorado na UFRGS, então eu achei que estava pronto o meu trabalho.<br />
G: A intenção é que esses mestres e doutores surdos <strong>de</strong>ssem continuida<strong>de</strong> ao trabalho que<br />
você começou?<br />
E: Eles e todo o grupo que na época era o NUPPES que a gente criou e também o grupo <strong>de</strong><br />
Santa Catarina com a Ronice Quadros. Fora isso eu também senti que eu queria mudar <strong>um</strong><br />
pouquinho os meus estudos, as minhas leituras, pois eu percebia que no Brasil eu estava<br />
sendo obrigado a entrar n<strong>um</strong>a discussão que eu não gostava e eu não queria nem ser odiado<br />
nem amado neste sentido. Eu não gosto <strong>de</strong>ssa relação <strong>de</strong> polarida<strong>de</strong> e quando pretendi<br />
fazer outras coisas a minha universida<strong>de</strong> me lembrava que eu estava lá por outra razão, que<br />
não era <strong>para</strong> fazer filosofia, era <strong>para</strong> continuar trabalhando na <strong>educação</strong> <strong>de</strong> surdos e eu já<br />
não queria porque eu queria que os surdos fizessem concurso público, que entrassem como<br />
professores. Quando <strong>um</strong> <strong>projeto</strong> fica muito ligado a <strong>um</strong>a pessoa não funciona, não serve. E<br />
eu acho que fiz bem porque a minha família também queria voltar e eu fiz bem em me<br />
afastar <strong>um</strong> pouco...<br />
G: Acontece que você ainda é <strong>um</strong>a referência importante na área da <strong>educação</strong> <strong>de</strong> surdos.<br />
Você sabe disso?<br />
E: Eu acho estranho e me surpreendo muito, pois eu recebo a todo tempo convites,<br />
perguntas e eu não sei o que fazer com isso porque eu não escrevo questões ligadas à<br />
sur<strong>de</strong>z <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2001. O último texto foi com a Ronice Quadros sobre a situação dos surdos<br />
na região sul do país e nunca mais voltei a escrever nada. Então eu acho interessante,<br />
alg<strong>um</strong>a coisa acontece... De <strong>um</strong> lado eu acho que a gente tocou <strong>um</strong> limite e esse limite não<br />
foi ultrapassado em nenh<strong>um</strong>a parte. Também sei <strong>de</strong> outros países que também não<br />
apareceu nada <strong>de</strong> novo ou a questão do implante coclear <strong>de</strong> <strong>um</strong> lado ficou em evidência ou<br />
até a própria questão da inclusão. Então ficou muito pouco espaço <strong>para</strong> a discussão da<br />
<strong>educação</strong> <strong>bilíngue</strong>. Hoje também eu não sei o que pensaria, eu já vi outras pessoas que<br />
antes pensavam muito em dizer que seria bom manter <strong>um</strong>a escola <strong>bilíngue</strong> durante os<br />
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