A construção de um projeto de educação bilíngue para
A construção de um projeto de educação bilíngue para
A construção de um projeto de educação bilíngue para
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
eram oralistas, mas foram se aposentando e, com o novo quadro <strong>de</strong><br />
professores, o ensino foi melhorando.<br />
Outros embates se seguiram à fundação do grêmio estudantil, em 1993, que teve o<br />
apoio explícito da direção pedagógica do INES e <strong>de</strong> alguns professores <strong>para</strong> que fosse<br />
criado. E à medida que os alunos encontravam brechas <strong>para</strong> criticarem os professores<br />
oralistas eles partiam com mais força <strong>para</strong> o confronto com esses docentes, especialmente.<br />
A direção pedagógica, ao apoiar os alunos em <strong>de</strong>fesa da língua <strong>de</strong> sinais, também<br />
começou a sofrer pressão do grupo <strong>de</strong> professores mais conservador da escola<br />
(representado em gran<strong>de</strong> parte pelos a<strong>de</strong>ptos do oralismo). O <strong>de</strong>poimento da diretora<br />
pedagógica (1990-1993) 76 nos esclarece sobre os motivos <strong>de</strong>sses conflitos:<br />
Os alunos estavam lutando pela língua <strong>de</strong> sinais e ridicularizavam os<br />
professores que estavam ali falando e eles sem enten<strong>de</strong>r nada, é a reação<br />
do pêndulo... Como eles ficaram anos e anos se sentindo massacrados por<br />
aquele po<strong>de</strong>r da oralida<strong>de</strong>, o pêndulo passou <strong>para</strong> o outro lado... Houve<br />
excesso nessa época [grifo meu], pois é o pêndulo, é o pêndulo. Houve<br />
alunos que exageravam e queriam tomar o po<strong>de</strong>r mesmo, até colocar o<br />
pessoal pra fora... (...) E <strong>um</strong>a boa parte dos professores não suportou isso,<br />
ficaram enlouquecidos porque achavam que eu estava dando <strong>um</strong> po<strong>de</strong>r<br />
muito gran<strong>de</strong> <strong>para</strong> os surdos.<br />
Por sua vez, os alunos continuavam a pressionar o corpo docente em busca da<br />
inserção da língua <strong>de</strong> sinais no ensino. O ex aluno F 77 nos relata esses episódios:<br />
Provocávamos, imitávamos o jeito dos professores no teatro: a roupa,<br />
tudo a gente imitava igualzinho. É verda<strong>de</strong>... fazíamos alg<strong>um</strong>as<br />
provocações [risos] e os professores ficavam extremamente zangados e<br />
falavam “vocês precisam nos respeitar” e a gente evitava até chegar<br />
perto porque eles ficavam realmente muito chateados. Mas alguns<br />
gostavam.<br />
Para Bourdieu & Wacquant, citados por Bonnewitz (2003, p. 60), o campo social<br />
po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finido “como <strong>um</strong>a re<strong>de</strong> ou <strong>um</strong>a configuração <strong>de</strong> relações objetivas entre<br />
posições” e nesse sentido, a estrutura do campo, articulada ao momento histórico<br />
vivenciado, dá visibilida<strong>de</strong> às relações <strong>de</strong> forças antagônicas que entram em choque no<br />
espaço social. Depen<strong>de</strong>ndo da força empregada nesses embates o campo social po<strong>de</strong><br />
vivenciar com mais violência esses conflitos.<br />
76 Essa diretora pedagógica conce<strong>de</strong>u entrevista à autora em 24 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2011.<br />
77 F é ex aluno do INES e conce<strong>de</strong>u a entrevista à autora em 15 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2011.<br />
103