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A construção de um projeto de educação bilíngue para

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Os alunos, valendo-se das condições políticas que se mostravam francamente<br />

favoráveis, também se utilizaram <strong>de</strong> táticas <strong>para</strong> criarem no ano <strong>de</strong> 1993 <strong>um</strong> <strong>projeto</strong> <strong>de</strong> lei<br />

que regulamentasse a língua <strong>de</strong> sinais. Segundo De Certeau (i<strong>de</strong>m, p.95) “(...) quanto mais<br />

fracas as forças submetidas à direção estratégica, tanto mais esta estará sujeita à astúcia.<br />

Traduzindo: tanto mais se torna tática”.<br />

O ex aluno E 101 discorre sobre o uso da tática <strong>de</strong> utilizar o respaldo político <strong>para</strong> ter<br />

as reivindicações dos alunos atendidas:<br />

Formamos o Comitê Pró-Oficialização LIBRAS que se reunia no<br />

auditório do INES no início dos anos 90 (...) A gente queria criar <strong>um</strong>a lei<br />

já nessa época reconhecendo a LIBRAS como língua legítima (...) e foi<br />

difícil essa luta! O INES começou a aceitar, mas era ainda a mesma<br />

diretora, a Leni. Ela aceitou nossas reivindicações (...) até que<br />

conseguimos criar o <strong>projeto</strong> <strong>de</strong> lei. Foi a senadora Benedita da Silva que<br />

nos ajudou nessa luta pela regulamentação da LIBRAS.<br />

Outra tática que ajudou sobremaneira a granjear a “boa vonta<strong>de</strong>” da senadora em<br />

questão foi sem dúvida o uso do capital social <strong>de</strong> alguns professores e pesquisadores do<br />

campo da sur<strong>de</strong>z já que os “os indivíduos portadores <strong>de</strong> <strong>um</strong> gran<strong>de</strong> vol<strong>um</strong>e <strong>de</strong> capitais<br />

ten<strong>de</strong>riam, assim, a sustentar <strong>um</strong> nível <strong>de</strong> aspiração social elevado e a se colocar objetivos<br />

mais ambiciosos e arriscados” (NOGUEIRA & NOGUEIRA, 2006, p.54). Esse capital,<br />

portanto, foi <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valia <strong>para</strong> a longa batalha pela legalização e regulamentação da<br />

LIBRAS em âmbito fe<strong>de</strong>ral.<br />

Contando com a participação <strong>de</strong> li<strong>de</strong>ranças discentes do INES, os surdos<br />

utilizaram-se <strong>de</strong> mais <strong>um</strong>a tática. Desta vez consistiu na elaboração <strong>de</strong> <strong>um</strong> doc<strong>um</strong>ento por<br />

ocasião do Pré-Congresso <strong>de</strong> Educação Bilíngue que se juntou àquele elaborado no V<br />

Congresso Latino-americano <strong>de</strong> Educação Bilíngue realizado na UFRGS em abril <strong>de</strong> 1999.<br />

O doc<strong>um</strong>ento intitulado “Que <strong>educação</strong> nós surdos queremos!”, entregue ao ministro da<br />

<strong>educação</strong> e secretária <strong>de</strong> <strong>educação</strong> especial nesta data, tinha <strong>de</strong>ntre suas principais<br />

propostas, o reconhecimento da língua <strong>de</strong> sinais como língua da <strong>educação</strong> do surdo em<br />

todas as escolas e classes especiais <strong>de</strong> surdos e o fim da política <strong>de</strong> inclusão/integração,<br />

visto que essa levava, segundo esses agentes, ao fechamento das escolas <strong>de</strong> surdos ou à<br />

evasão escolar.<br />

Além disso, os professores engajados nas lutas pelas transformações no ensino do<br />

INES também investiam no a<strong>um</strong>ento do vol<strong>um</strong>e <strong>de</strong> capital cultural sob a forma <strong>de</strong><br />

diplomas e capital informacional. Estes, por sua vez, a<strong>um</strong>entavam o capital simbólico do<br />

101 E é ex aluno do INES e conce<strong>de</strong>u entrevista à autora em 15 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2011.<br />

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