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A construção de um projeto de educação bilíngue para

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Por fim, trabalharemos com os conceitos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e diferença, <strong>de</strong> Carlos<br />

Skliar, dando visibilida<strong>de</strong> à escolha política e pedagógica pelo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>educação</strong><br />

<strong>bilíngue</strong> explicitada no plano norteador da instituição e que começou a ser construído no<br />

INES em 1998. O que nos suscita questionamentos a respeito <strong>de</strong> <strong>um</strong> currículo oculto<br />

coexistindo com o currículo oficial da instituição.<br />

4.1. INES: <strong>um</strong> campo marcado por lutas concorrenciais<br />

Apesar das mudanças políticas e sociais que marcaram a socieda<strong>de</strong> brasileira na<br />

década <strong>de</strong> 1980, em razão do processo <strong>de</strong> re<strong>de</strong>mocratização por que passava o país, as<br />

condições institucionais não permitiam avanços em relação às práticas pedagógicas<br />

<strong>de</strong>senvolvidas pelos professores do INES. Tais práticas encontravam-se ainda ancoradas na<br />

tradição oralista, fortemente marcada a partir <strong>de</strong> 1951 pela gestão <strong>de</strong> Ana Rímoli <strong>de</strong> Faria<br />

Dória, como apontaram os <strong>de</strong>poimentos dos agentes entrevistados durante esta pesquisa.<br />

Tal afirmativa pô<strong>de</strong> ser aventada também pela observação da seguinte prática<br />

recorrente na gestão <strong>de</strong> Fernando Bossi <strong>de</strong> Santa Rosa (1980-1983): era distribuído entre<br />

os professores que ingressaram à instituição em 1980 e 1981 <strong>um</strong> kit 70 , publicado há treze<br />

anos, composto por oito ca<strong>de</strong>rnos contendo publicações <strong>de</strong> autores/profissionais que<br />

trabalhavam em centros e escolas <strong>para</strong> surdos nos EUA, traduzidos por Ana Rímoli <strong>de</strong><br />

Faria Dória, que também escreveu <strong>um</strong> <strong>de</strong>sses ca<strong>de</strong>rnos. Estas obras se <strong>de</strong>dicavam a dar<br />

orientações práticas a respeito da <strong>educação</strong> do <strong>de</strong>ficiente auditivo 71 no lar e na escola,<br />

postuladas no início dos anos 1950, e ainda eram utilizadas como plano norteador <strong>para</strong> as<br />

práticas docentes do INES até os anos 1980. Ou seja, a concepção da sur<strong>de</strong>z como<br />

<strong>de</strong>ficiência, falta e déficit reinou absoluta por trinta anos consecutivos no INES,<br />

preconizada através <strong>de</strong> métodos orais estritos, sem ter sido ameaçada por nenh<strong>um</strong>a outra<br />

visão.<br />

70 O kit era composto pelo seguinte material: Como ajudar <strong>um</strong>a criança surda, <strong>de</strong> Ana Rímoli <strong>de</strong> Faria<br />

Dória; Ca<strong>de</strong>rno nº 1: Se seu filho é surdo..., <strong>de</strong> Irene R. Ewing (et al.); Ca<strong>de</strong>rno nº 2: Iniciando a<br />

compreensão da fala, <strong>de</strong> Lilian E. Russel; Ca<strong>de</strong>rno nº 3: A leitura orofacial no horário escolar, <strong>de</strong> Lula M.<br />

Bruce; Ca<strong>de</strong>rno nº 4: O Treinamento Acústico no curso primário, <strong>de</strong> Frances R. Asals e Henrietta C.<br />

Ruthven; Ca<strong>de</strong>no nº 5: A leitura da fala: <strong>um</strong>a contínua necessida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> Harriet Montague; Ca<strong>de</strong>rno nº 6: A<br />

<strong>educação</strong> no lar, <strong>de</strong> Ana Rímoli <strong>de</strong> Faria Dória; Ca<strong>de</strong>rno nº 7; Escola e lar; o aprendizado no lar da criança<br />

surda ou <strong>de</strong> pouca audição, <strong>de</strong> Harry E. Amoss e Ca<strong>de</strong>rno nº 8: A linguagem oral, <strong>de</strong> Mary C. New. Todas<br />

as obras dos autores internacionais foram traduzidas por Ana Rímoli <strong>de</strong> Faria Dória em 1967. Esse material<br />

me foi disponibilizado em 9 <strong>de</strong> novembro do corrente ano por <strong>um</strong>a professora do INES que ingressou na<br />

instituição em 1981. A mesma explicou que todos os docentes recebiam o kit completo em ocasião do<br />

ingresso na instituição nos anos 1980 e 1981.<br />

71 O termo <strong>de</strong>ficiente auditivo é utilizado pelos autores dos ca<strong>de</strong>rnos. Por <strong>um</strong>a opção política e, <strong>de</strong> acordo<br />

com o mo<strong>de</strong>lo sócio-antropológico, refiro-me a estes sujeitos como surdos.<br />

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