08.05.2013 Views

A construção de um projeto de educação bilíngue para

A construção de um projeto de educação bilíngue para

A construção de um projeto de educação bilíngue para

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

primeiros 4 ou 5 anos do ensino fundamental e <strong>de</strong>pois pensar n<strong>um</strong>a outra estrutura, eu não<br />

sei, eu realmente não sei.<br />

G: Agora voltando à consultoria... Houve <strong>um</strong> grupo <strong>de</strong> professores que fazia <strong>um</strong>a critica<br />

bem específica em relação a sua consultoria, eles achavam que você pregava <strong>um</strong><br />

monolinguismo <strong>de</strong> sinais. O que você po<strong>de</strong> falar sobre essas críticas?<br />

E: Jamais <strong>de</strong>fendi esse monolinguismo, eu só opinei que o bilinguismo <strong>para</strong> mim só teria<br />

sentido com <strong>um</strong>a política e com <strong>um</strong>a imersão muito forte da comunida<strong>de</strong> surda na língua<br />

<strong>de</strong> sinais, então não era qualquer bilinguismo que eu <strong>de</strong>fendia... Não podíamos falar da<br />

segunda língua sem <strong>um</strong>a política da primeira língua porque <strong>de</strong>ssa forma não se tratava <strong>de</strong><br />

<strong>um</strong> bilinguismo com duas línguas nativas. Então os surdos tinham que ter acesso à<br />

primeira língua <strong>para</strong> pensar <strong>um</strong> jeito <strong>de</strong> acesso á segunda língua e eu sempre falei da<br />

escrita e do domínio do português escrito como a segunda opção e que a escola tinha tudo<br />

<strong>para</strong> fazer isso. O aluno não chegava à escola <strong>de</strong> primeiro grau já competente em língua <strong>de</strong><br />

sinais e, portanto a pré-escola tinha que fazer todo esse trabalho e a escola <strong>de</strong> primeiro<br />

grau, como aconteceria em <strong>um</strong>a escola regular, <strong>de</strong>veria ter <strong>um</strong>a política <strong>de</strong> língua escrita<br />

<strong>para</strong> os surdos, essa era a minha opinião na época e ainda acho que é assim. Porque o oral a<br />

gente não po<strong>de</strong> controlar e é <strong>um</strong> tipo <strong>de</strong> ensino-aprendizagem que a gente não sabe como<br />

funciona, hoje é muito mais tecnológico. Mas eu nunca falei do monolíngue, eu falei que<br />

tinha que ser privilegiada <strong>um</strong>a política <strong>de</strong> língua <strong>de</strong> sinais <strong>para</strong> os surdos com as ida<strong>de</strong>s<br />

mais tenra e se isso não fosse feito seria inútil falar em segunda língua.<br />

G: E o senhor acredita que os surdos baseiam todo o conhecimento <strong>de</strong>les em sua<br />

experiência visual e que possuindo <strong>um</strong>a língua própria, a língua <strong>de</strong> sinais, acabam<br />

construindo <strong>um</strong>a cultura própria, <strong>um</strong>a cultura surda? Essa questão da cultura surda ainda<br />

hoje é outro ponto polêmico...<br />

E: Imagino que é muito difícil falar da cultura surda. Eu acreditava e tinha certeza disso,<br />

mas eu me movimentava com grupos <strong>de</strong> surdos que criavam teatro, cinema, então é muito<br />

difícil generalizar, não é <strong>um</strong>a condição natural, a cultura não é <strong>um</strong>a questão natural, não é<br />

dada porque eles são surdos, você precisa <strong>de</strong> <strong>um</strong>a comunida<strong>de</strong>, você precisa <strong>de</strong> <strong>um</strong>a<br />

história pedagógica, você precisa <strong>de</strong> associações, precisa <strong>de</strong> muitas coisas <strong>para</strong> chamar isso<br />

<strong>de</strong> cultura e é verda<strong>de</strong> que muitas regiões não têm nem comunida<strong>de</strong> então não tem nem<br />

como falar <strong>de</strong> cultura surda... Eu tentei explicar isso também, que a cultura não é <strong>um</strong> fato<br />

natural, a cultura dos surdos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da história da comunida<strong>de</strong> n<strong>um</strong> lugar especifico.<br />

Então era muito difícil falar da cultura automática, dois surdos se juntam e já tem cultura,<br />

mas na época era revolucionário porque as pessoas estavam falando da <strong>de</strong>ficiência<br />

auditiva, você falava <strong>de</strong> <strong>um</strong>a comunida<strong>de</strong> diferente, falava <strong>de</strong> <strong>um</strong>a cultura e muitos te<br />

olhavam dizendo “maluco, maluco”... Mas a cultura, eu acho que também é <strong>um</strong>a questão<br />

<strong>de</strong> crenças, <strong>de</strong> dar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensamentos que entre os surdos tem cultura, o visual<br />

aparece não tanto como língua , mas como a organização do cérebro e tem vários estudos<br />

que falam que o surdo é <strong>um</strong> sujeito visual com todas as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem.<br />

G: De que forma esses surdos que são possuidores <strong>de</strong>ssa cultura própria, da cultura surda,<br />

po<strong>de</strong>riam estar se relacionando com a socieda<strong>de</strong> majoritária? De que forma po<strong>de</strong>riam ter<br />

153

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!