A construção de um projeto de educação bilíngue para
A construção de um projeto de educação bilíngue para
A construção de um projeto de educação bilíngue para
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
No início dos anos 1990, os professores que participavam do movimento<br />
vanguardista continuaram a apren<strong>de</strong>r a língua <strong>de</strong> sinais, não obstante a falta <strong>de</strong> respaldo<br />
político da direção do instituto. Também realizavam estudos, por iniciativas próprias, que<br />
versavam sobre a visão sócio-antropológica da sur<strong>de</strong>z, na interpretação <strong>de</strong> Skliar (1997),<br />
baseado em literatura internacional, e que entendia a sur<strong>de</strong>z “[...] como <strong>um</strong> espaço <strong>de</strong><br />
produção <strong>de</strong> diferenças, em oposição à visão clínica <strong>de</strong> surdo/sur<strong>de</strong>z.” (PEDREIRA, 2006,<br />
p.11).<br />
Favorito (2006), professora do CAP/INES à época, em sua tese <strong>de</strong> doutorado,<br />
também faz <strong>um</strong> relato <strong>de</strong>talhado <strong>de</strong>ssa década <strong>de</strong> anseios por transformações, não só <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />
grupo <strong>de</strong> professores, mas <strong>de</strong> <strong>um</strong> grupo <strong>de</strong> alunos também, que via nas propostas <strong>bilíngue</strong>s<br />
<strong>um</strong> terreno fértil <strong>para</strong> <strong>um</strong>a <strong>educação</strong> que contemplasse a diferença política e linguística do<br />
surdo n<strong>um</strong>a visão que se antagonizava com a perspectiva oralista.<br />
Para Skliar (1998), a <strong>educação</strong> <strong>bilíngue</strong> só po<strong>de</strong>rá apresentar <strong>um</strong>a i<strong>de</strong>ologia<br />
diferente da oralista se os discursos sobre a sur<strong>de</strong>z forem ancorados em sua dimensão<br />
política, consi<strong>de</strong>rando a sur<strong>de</strong>z como <strong>construção</strong> histórica, cultural e social. Ou seja, se<br />
compreen<strong>de</strong>rmos as relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que atravessam esses discursos.<br />
Nesse sentido, <strong>para</strong> o autor, a <strong>educação</strong> <strong>bilíngue</strong> não po<strong>de</strong> ficar restrita ao domínio,<br />
em alg<strong>um</strong> nível, <strong>de</strong>ssas duas línguas. É fundamental que exista <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssa proposta <strong>um</strong><br />
<strong>de</strong>bate sobre as questões das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s dos surdos, do multiculturalismo e das relações <strong>de</strong><br />
po<strong>de</strong>r/saber que estão implícitas ou explícitas na <strong>educação</strong> <strong>de</strong>sses discentes. Caso não haja<br />
preocupação com a abertura <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>bates, a proposta <strong>bilíngue</strong> corre <strong>um</strong> sério risco <strong>de</strong><br />
transformar-se em mais <strong>um</strong>a narrativa educacional ou n<strong>um</strong>a “metodologia” positivista, não<br />
histórica e <strong>de</strong>spolitizada, segundo o autor.<br />
Para Favorito (2006, p.33), o movimento dos professores e alunos na década <strong>de</strong><br />
1990 postulava esse <strong>de</strong>bate maior a que Skliar se refere propondo discussões que<br />
<strong>de</strong>sconstruíssem a i<strong>de</strong>ologia do discurso oralista. No trecho abaixo, a autora dá visibilida<strong>de</strong><br />
ao objetivo principal <strong>de</strong>sse movimento gestado no INES:<br />
[...] Esse movimento minoritário se pautava principalmente por <strong>um</strong>a<br />
ruptura com o <strong>para</strong>digma oralista que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a fundação da instituição<br />
(1857) orientou as práticas pedagógicas confinando os surdos ao<br />
“esquecimento” <strong>de</strong> que se tratavam <strong>de</strong> alunos e <strong>de</strong> que aquele espaço<br />
<strong>de</strong>veria ser <strong>um</strong>a escola.<br />
E <strong>para</strong> ir construindo as condições políticas que viabilizassem a ruptura com a<br />
filosofia oralista, esse movimento valeu-se <strong>de</strong> brechas que encontravam na gestão da<br />
instituição. Foi nesse campo <strong>de</strong> disputas que os alunos surdos encontraram espaço <strong>para</strong> se<br />
32