A construção de um projeto de educação bilíngue para
A construção de um projeto de educação bilíngue para
A construção de um projeto de educação bilíngue para
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
certeaunianos, <strong>um</strong>a típica estratégia dos agentes que ocupavam <strong>um</strong>a posição <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e<br />
que ansiavam pela <strong>construção</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong>a proposta curricular inédita no Brasil.<br />
Nesse sentido, a contratação <strong>de</strong> consultores (pesquisadores da área da sur<strong>de</strong>z e da<br />
área da Linguística Aplicada) que refletissem sobre as teorias que <strong>de</strong>finiriam o sujeito e<br />
suas concepções políticas e culturais, provocaram <strong>um</strong> <strong>de</strong>slocamento da área da sur<strong>de</strong>z da<br />
<strong>educação</strong> especial <strong>para</strong> a da <strong>educação</strong> geral e suscitaram discussões sobre cultura, currículo<br />
e <strong>educação</strong> <strong>de</strong> minorias. À luz da teoria <strong>de</strong> De Certeau, tais medidas e atitu<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>riam<br />
ser tomadas como típicos comportamentos estratégicos dos gestores que visavam envolver<br />
os agentes nas mesmas matrizes <strong>de</strong> percepção e apreciação, tal qual fez a diretora<br />
pedagógica Marilene Nogueira nos anos iniciais da década <strong>de</strong> 1990: em vez <strong>de</strong> impor<br />
conhecimentos, propiciou a sua <strong>construção</strong> pelos agentes, escamoteando o viés impositivo<br />
dos gestores.<br />
Para a consultora Regina <strong>de</strong> Souza, 104 as gestoras que estavam à frente da direção<br />
do INES formavam “<strong>um</strong> grupo que tinha condições, que estava n<strong>um</strong> lugar <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />
suficiente <strong>para</strong> arcar com os custos - <strong>de</strong> várias naturezas - das assessorias e dar<br />
legitimida<strong>de</strong> às ações dos assessores”.<br />
Ao optarem pelo investimento n<strong>um</strong>a <strong>educação</strong> <strong>bilíngue</strong> politicamente construída e<br />
sociolinguisticamente justificada, essas gestoras enxergavam a língua <strong>de</strong> sinais como<br />
produtora <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s, postulavam ultrapassar quaisquer discussões que se limitassem a<br />
métodos, técnicas e recursos, ou seja, apostavam n<strong>um</strong>a radical transformação na<br />
conceitualização dos surdos/sur<strong>de</strong>z.<br />
Porém, os consultores não po<strong>de</strong>riam ser impostos e a estratégia <strong>de</strong> elegê-los<br />
po<strong>de</strong>ria ser experimentada como <strong>um</strong> gran<strong>de</strong> risco à <strong>construção</strong> do <strong>projeto</strong> <strong>bilíngue</strong> como<br />
po<strong>de</strong>mos apreen<strong>de</strong>r do <strong>de</strong>poimento da professora Q 105 :<br />
(...) achávamos que os orientadores pedagógicos precisavam votar porque<br />
esse assessor veio trabalhar com eles, mas e se eles não quisessem? A<br />
gente não po<strong>de</strong> impor <strong>um</strong> assessor... Vamos jogar o nome do Carlos<br />
Skliar e nos arriscar a per<strong>de</strong>r.<br />
Contudo, o nome <strong>de</strong> Carlos Skliar, referência no campo da sur<strong>de</strong>z, foi referendado<br />
pelo grupo <strong>de</strong> professores orientadores. Suas consultorias com os representantes das<br />
diversas equipes tinham o propósito <strong>de</strong> re<strong>de</strong>finir o sujeito surdo inscrito na pós-<br />
mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, enten<strong>de</strong>ndo o <strong>projeto</strong> <strong>bilíngue</strong> como <strong>um</strong>a <strong>construção</strong> histórica em que “a<br />
<strong>educação</strong> <strong>bilíngue</strong> significa muito mais que <strong>um</strong>a proposta na escola, é ir na base e criar<br />
104 Esta consultora conce<strong>de</strong>u entrevista à autora em 30 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2011.<br />
105 A professora Q é professora do INES e conce<strong>de</strong>u entrevista à autora em 21 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2011.<br />
125