A construção de um projeto de educação bilíngue para
A construção de um projeto de educação bilíngue para
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Ainda que o PPP do CAP/ INES tenha tentado seguir a linha <strong>de</strong>fendida por Skliar,<br />
como o mencionado acima, encontramos <strong>de</strong>poimentos que colocaram em xeque a própria<br />
<strong>educação</strong> <strong>bilíngue</strong> postulada pela direção, como é o caso do relato da professora B 116 :<br />
Eu sei que a chefe do DETEP em 1997 consultou a casa inteira, tinham<br />
reuniões, justiça seja feita. Eu acho que tinha sim <strong>um</strong> <strong>projeto</strong> político<br />
pedagógico bem claro quanto à questão sócio-histórica interacionista com<br />
a influência do Carlos Skliar e também havia <strong>um</strong> direcionamento <strong>bilíngue</strong><br />
consi<strong>de</strong>rando a cultura surda. Acho que houve alg<strong>um</strong>as tentativas, mas<br />
acho que realmente não se alcançou êxito e nem teve <strong>um</strong> norte, nunca<br />
teve isso. Uma diretriz, <strong>um</strong> norte que falasse assim , “olha o caminho é<br />
esse”. Isso não. Eu acho que tatearam. E nenh<strong>um</strong> consultor conseguiu dar<br />
esse norte, nenh<strong>um</strong> apontou esse caminho. Eu acho que nenh<strong>um</strong> apontou<br />
lá fora também, na <strong>educação</strong> dos ouvintes, com sucesso. O Carlos Skliar<br />
não foi capaz <strong>de</strong> apontar com sucesso, houve muita resistência dos<br />
próprios professores da casa. Transformar é muito difícil. Houve essas<br />
consultorias, da Alice Freire, por exemplo, que tentavam dar <strong>um</strong> norte,<br />
mas acho que não se sustentavam. Eu acho que o professor do INES<br />
ainda não era pre<strong>para</strong>do aca<strong>de</strong>micamente <strong>para</strong> sustentar esses <strong>projeto</strong>s.<br />
Outros relatos <strong>de</strong> professores também apontaram que o PPP da instituição não<br />
apontava <strong>um</strong>a direção metodológica, dificultando a tarefa docente. É o caso da professora<br />
P 117 que, apesar <strong>de</strong> <strong>de</strong>clarar sua fluência em LIBRAS “não conseguia ensinar aos seus<br />
alunos na proposta nova”, recorrendo às práticas tradicionais <strong>para</strong> “imprimir <strong>um</strong> pouco <strong>de</strong><br />
qualida<strong>de</strong> as suas aulas”.<br />
Para Skliar a questão metodológica não era realmente o foco do PPP. Sua<br />
preocupação maior era divisar <strong>um</strong>a política linguística em que o professor adquirisse a<br />
língua <strong>de</strong> sinais e, assim, pu<strong>de</strong>sse investir na didática do processo <strong>de</strong> ensino. Vejamos suas<br />
explicações:<br />
O plano político pedagógico do INES tinha <strong>um</strong>a direção política com<br />
certeza, agora, metodológica é muito difícil porque eu queria <strong>um</strong>a<br />
discussão da <strong>educação</strong> <strong>de</strong> surdos na <strong>educação</strong> geral, e na <strong>educação</strong> geral<br />
não se fala do método, se fala das didáticas, se fala das formas do ensino<br />
e eu queria discutir exatamente isso e não discutir o método <strong>bilíngue</strong> (...)<br />
Eu falava <strong>de</strong> <strong>um</strong>a filosofia <strong>bilíngue</strong>, mas nunca <strong>de</strong> <strong>um</strong> método <strong>bilíngue</strong><br />
que era o que muitas pessoas no Brasil exigiam da gente, do como se faz,<br />
e eu dizia que o problema era a formação que a gente tem, que a gente<br />
não é professor, só é professor <strong>de</strong> surdo, mas se você apren<strong>de</strong>sse a língua<br />
<strong>de</strong> sinais e você soubesse como se ensina matemática nessa língua e<br />
história, literatura, então a formação viraria <strong>um</strong>a formação normal por<br />
língua <strong>de</strong> sinais, normal no sentido da formação que qualquer professor<br />
recebe. Professor <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> primeiro grau só que acrescentando a<br />
língua <strong>de</strong> sinais no currículo <strong>de</strong> formação e na hora da prática <strong>de</strong> sala <strong>de</strong><br />
aula você saberia então dar aula nessa língua, e não precisaria mudar<br />
tanto, não precisaria <strong>de</strong> tanta metodologia (...) 118<br />
116 B é professora do INES e conce<strong>de</strong>u entrevista à autora em 10 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2011.<br />
117 P é professora do INES e conce<strong>de</strong>u entrevista à autora em 27 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2011.<br />
118 Carlos Skliar – Entrevista à autora em 11 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2011.<br />
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