08.05.2013 Views

A construção de um projeto de educação bilíngue para

A construção de um projeto de educação bilíngue para

A construção de um projeto de educação bilíngue para

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Não obstante essa gestão se <strong>de</strong>dicar à inovação dos métodos orais, ainda<br />

permanecia <strong>um</strong> viés assistencialista na <strong>educação</strong> <strong>de</strong>sses discentes. Esse fato po<strong>de</strong> ser<br />

apreendido através do relato contido em outra carta, esta enviada em 1986 por <strong>um</strong>a<br />

professora 22 que fez o Curso Normal do INES, ainda na década <strong>de</strong> 1950, a outra<br />

professora, recém chegada ao instituto. O trecho capturado <strong>de</strong>ssa correspondência nos dá a<br />

dimensão do empenho que se esperava do professor em promover a integração do surdo à<br />

socieda<strong>de</strong> majoritária (através da linguagem oral) reiterando a tradição oralista da<br />

instituição:<br />

Educar o D.A. é refletir as bênçãos <strong>de</strong> Deus aten<strong>de</strong>ndo a rogativa<br />

silenciosa que nos faz a todos nós que o compreen<strong>de</strong>mos, que o<br />

ajudamos, que vivemos <strong>para</strong> ele, em s<strong>um</strong>a, que o amamos com o melhor<br />

<strong>de</strong> nosso sentimento Cristão. Depois <strong>de</strong> alguns meses <strong>de</strong> convívio,<br />

<strong>de</strong>scobrindo caminhos, tentando encurtá-los <strong>para</strong> alcançarmos (quem<br />

sabe?) a tão <strong>de</strong>sejada integração do D.A. (...)<br />

Também po<strong>de</strong>mos visl<strong>um</strong>brar no relato da professora, a representação do caráter<br />

sacerdotal do magistério, fundamentado em preceitos religiosos, <strong>de</strong>stinado à “il<strong>um</strong>inação<br />

das almas infantis” (VICENTINI e LUGLI, 2009), em que a recompensa simbólica ao se<br />

trabalhar com os alunos (ainda mais os consi<strong>de</strong>rados excepcionais, como os surdos eram<br />

percebidos à época), exaltava ainda mais o altruísmo do professor e a “nobreza” <strong>de</strong> sua<br />

função.<br />

O <strong>de</strong>poimento da professora A 23 , relembrando a década <strong>de</strong> 1980, não faz menção ao<br />

caráter sacerdotal do magistério, tal como foi percebido na fala da professora, autora da<br />

carta acima. Suas memórias remontam-se ao mo<strong>de</strong>lo oralista <strong>de</strong> ensino da instituição e da<br />

discussão recorrente sobre a polarização das línguas:<br />

Essa coisa, essa tensão <strong>de</strong> oralismo x língua <strong>de</strong> sinais sempre existiu na<br />

<strong>educação</strong> <strong>de</strong> surdos, sempre. No Brasil e no mundo foi sempre assim,<br />

<strong>um</strong>a hora prevalece <strong>um</strong> lado, outra hora prevalece outro, é <strong>um</strong> pêndulo.<br />

Mas eu acreditava no oralismo por causa da minha história... Eu comecei<br />

<strong>de</strong>ssa forma no oralismo: tentando, comprando todos os livros sobre o<br />

método verbo- tonal, pois eram os livros que existiam na época (...) Eram<br />

as referências, eram as únicas referências, não se falava em língua <strong>de</strong><br />

sinais.<br />

22 Para efeito <strong>de</strong>sse trabalho, o nome da professora foi mantido em anonimato.<br />

23 Professora do INES. Entrevista concedida à autora em 24 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2011.<br />

64

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!