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A construção de um projeto de educação bilíngue para

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Outra fonte <strong>de</strong> divergência, segundo a consultora, era com relação às expectativas<br />

sobre o potencial e capacida<strong>de</strong> intelectual dos alunos. Percebia durante sua consultoria que<br />

existia <strong>um</strong> discurso por parte <strong>de</strong> alguns professores que atribuía aos alunos <strong>um</strong> olhar <strong>de</strong><br />

“pobrezinho” e <strong>de</strong> “coitadinho” ficando implícita <strong>um</strong>a baixa expectativa em relação aos<br />

mesmos.<br />

Não obstante a essa falta <strong>de</strong> integração na equipe <strong>de</strong> língua portuguesa, a consultora<br />

começava a visl<strong>um</strong>brar resultados positivos nas produções escritas dos alunos das séries<br />

mais avançadas, apesar do pouco tempo que vigorava o <strong>projeto</strong>. Po<strong>de</strong>mos observar o<br />

entusiasmo dos alunos através na fala <strong>de</strong> F 90 , aluno do INES nessa época:<br />

E era muito bom o <strong>projeto</strong> <strong>de</strong> português como segunda língua [emoção]!<br />

Eu tinha muito interesse nessas aulas que eram maravilhosas! Ficava bem<br />

claro que alguns professores tiveram <strong>um</strong> verda<strong>de</strong>iro interesse nesse tema<br />

e juntos fizeram muitas pesquisas. Todos os surdos estavam adorando<br />

essas aulas através <strong>de</strong>ssa metodologia. Nós percebíamos que esses<br />

professores estavam muito preocupados com os surdos, com nossa<br />

<strong>educação</strong>, mas o tempo foi passando e tudo foi esfriando...<br />

No entanto, apesar do forte investimento da instituição neste <strong>projeto</strong> <strong>de</strong> ensino com<br />

o intuito <strong>de</strong> reverter o quadro <strong>de</strong> fracasso escolar que acometia há anos os alunos, esta<br />

proposta <strong>de</strong> ensino cada vez mais ficava comprometida pelos conflitos que se<br />

intensificavam entre os integrantes da equipe <strong>de</strong> língua portuguesa principalmente. O<br />

<strong>de</strong>poimento da professora C 91 mostra seu ponto <strong>de</strong> vista sobre a questão:<br />

O problema é que quem portava essas idéias fazia <strong>de</strong> <strong>um</strong> modo, do meu<br />

ponto <strong>de</strong> vista, muito intenso, <strong>de</strong> modo que essa postura e esse diálogo<br />

com outras vozes não se <strong>de</strong>u. Havia massa crítica, havia massa crítica<br />

[emoção]! (...) Havia <strong>um</strong>a crise instalada na equipe <strong>de</strong> língua portuguesa<br />

(...) Era <strong>um</strong> problema <strong>de</strong> sua orientação pedagógica com <strong>um</strong> grupo e<br />

parece que esse grupo não aceitou bem aquele <strong>projeto</strong>. Isso faz parte, as<br />

pessoas a<strong>de</strong>rem ou não, existe massa crítica... Mas eu acho que a<br />

expectativa era que a<strong>de</strong>rissem sem muito questionamento até por que<br />

houve momentos <strong>de</strong> certa perseguição i<strong>de</strong>ológica (...) Então existe <strong>um</strong>a<br />

versão hegemônica que circula na bibliografia e nas vozes políticas <strong>de</strong><br />

quem veicula (...) E era preciso “combinar pensamento”... É o<br />

pensamento único do século XX que <strong>de</strong>u no fascismo, no comunismo, no<br />

stalinismo, aquela coisa assim... Você tem <strong>um</strong> começo, <strong>um</strong> meio e <strong>um</strong><br />

fim e aqueles que pensam <strong>um</strong> pouco diferente são os expurgos (...) eu<br />

acho que houve dificulda<strong>de</strong>, digamos assim, <strong>de</strong> lidar com o pensamento<br />

divergente.<br />

90 F é ex aluno do INES e conce<strong>de</strong>u a entrevista à autora em 15 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2011.<br />

91 C é professora do INES e conce<strong>de</strong>u entrevista à autora em 10 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2011.<br />

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