A construção de um projeto de educação bilíngue para
A construção de um projeto de educação bilíngue para
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educacionais que não consi<strong>de</strong>ram as reais necessida<strong>de</strong>s pedagógicas <strong>de</strong>sses discentes, que<br />
não os reconhecem como <strong>um</strong>a minoria linguística e que não oferecem condições <strong>para</strong> a<br />
<strong>construção</strong> <strong>de</strong> escolas <strong>bilíngue</strong>s <strong>para</strong> surdos (ao invés disso promovem seu fechamento ou<br />
extinguem as classes especiais inseridas nas escolas regulares...).<br />
Vistas sob esse ponto <strong>de</strong> vista, a maioria das políticas inclusivas, no que concernem<br />
aos discentes surdos, ainda não respeitam as singularida<strong>de</strong>s linguísticas <strong>de</strong>sses sujeitos e<br />
subjugam as reivindicações dos movimentos organizados pela comunida<strong>de</strong> surda ao longo<br />
da história mais recente.<br />
Boom (2009) observa na literatura a recorrência indistinta entre os termos políticas<br />
educacionais e políticas públicas sendo ambas as expressões tomadas por <strong>um</strong> conjunto <strong>de</strong><br />
transformações que afetam a <strong>educação</strong> e o ensino das instituições educativas e <strong>de</strong> seus<br />
agentes escolares.<br />
Nesta perspectiva constata <strong>um</strong>a naturalização do entendimento <strong>de</strong> que as políticas<br />
públicas atravessam as instituições educacionais, sobretudo as escolares, apenas<br />
influenciando, e não sendo também influenciadas pelas mesmas. Porém o autor não<br />
acredita na suposta auto-suficiência <strong>de</strong>ssas políticas e <strong>de</strong>staca a relação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que<br />
subjaz no interior das instituições educacionais quando entram em confronto com as<br />
mesmas.<br />
Para o autor, a <strong>educação</strong> não se res<strong>um</strong>e a políticas públicas, porém são essas que<br />
ganham maior visibilida<strong>de</strong> perante a socieda<strong>de</strong>:<br />
A <strong>educação</strong> se caracteriza como <strong>um</strong> campo amplo <strong>de</strong> objetos, saberes e<br />
instituições que estão atravessados por relações, significações históricas,<br />
reformas e eventualida<strong>de</strong>s que afetam sua natureza, sua função e sua<br />
estrutura. À estratégia mais visível <strong>de</strong>ssas relações po<strong>de</strong>ríamos nominá-la<br />
como política pública [tradução minha] (I<strong>de</strong>m, p. 6).<br />
Nesse sentido, acredito na importância <strong>de</strong> ampliarmos o <strong>de</strong>bate acerca da<br />
<strong>construção</strong> <strong>de</strong> políticas inclusivas, principalmente no tocante à <strong>educação</strong> <strong>de</strong> surdos, visto<br />
que as mesmas vêm se constituindo como altamente prejudiciais ao <strong>de</strong>senvolvimento da<br />
língua <strong>de</strong> sinais e à <strong>construção</strong> da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> surda.<br />
Minhas indagações mais frequentes a esse respeito são: como os surdos, incluídos<br />
em turmas regulares, sem o convívio com seus pares, po<strong>de</strong>m apren<strong>de</strong>r a língua <strong>de</strong> sinais?<br />
Como sujeitos que não possuem nem a língua <strong>de</strong> sinais nem a língua oral e, portanto, que<br />
não estão municiados das referências que os possibilitem interagir com o mundo, po<strong>de</strong>m<br />
ter <strong>de</strong>senvolvidos seus substratos cognitivo, cultural ou mesmo emocional? Como oferecer<br />
condições <strong>de</strong> participação social e exercício da cidadania sem <strong>um</strong>a língua compartilhada<br />
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