08.05.2013 Views

A construção de um projeto de educação bilíngue para

A construção de um projeto de educação bilíngue para

A construção de um projeto de educação bilíngue para

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Alguns professores achavam que os embates ficavam mais violentos na medida em<br />

que os alunos, sob a influência <strong>de</strong> seus professores, dicotomizavam mais ainda o campo já<br />

marcado pelas lutas explícitas entre surdos x ouvintes.<br />

Outros professores, como C 78 , censuravam a forma como as diretoras estavam<br />

encaminhando o processo reivindicatório dos alunos e impingindo <strong>um</strong>a violência<br />

simbólica, entendida por Bourdieu, no dizer <strong>de</strong> Nogueira &Nogueira (2006, p. 38), como<br />

“<strong>um</strong>a imposição da cultura (arbitrário cultural) <strong>de</strong> <strong>um</strong> grupo como a verda<strong>de</strong>ira ou única<br />

forma cultural existente”. Acompanhemos suas palavras:<br />

Antes <strong>de</strong> tudo nós somos educadores. É claro que nós po<strong>de</strong>mos aceitar<br />

criticas, mas quando elas são <strong>de</strong>srespeitosas, é claro que ninguém gosta.<br />

(...) Acho que o professor ficou <strong>um</strong> pouco como bandido da história... E<br />

as diretoras da época ficaram do lado dos alunos como se fossem lados<br />

(...) é <strong>um</strong> problema do campo (...) nós somos muito dicotomizados, o bem<br />

e o mal, enfim, a gente não po<strong>de</strong> julgar o outro, o professor, nada.<br />

O setor da fonoaudiologia da instituição também foi alvo <strong>de</strong> muitos embates. Os<br />

fonoaudiólogos se ressentiam da perda <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que paulatinamente estavam sofrendo com<br />

a crescente onda <strong>de</strong> valorização da língua <strong>de</strong> sinais e que, nesse sentido, vinha<br />

acompanhada por <strong>um</strong> <strong>de</strong>sprezo crescente por parte dos alunos (e <strong>de</strong> alguns professores)<br />

pela aprendizagem da língua oral. A diretora pedagógica 79 dos anos iniciais da década <strong>de</strong><br />

1990 nos esclarece quanto à dimensão <strong>de</strong>sses conflitos:<br />

As fonoaudiólogas foram extremamente resistentes, elas continuavam<br />

fazendo trabalho <strong>de</strong> estimulação auditiva, não trabalhavam enquanto a<br />

aparelhagem tivesse sido <strong>para</strong>da (...) e então tinha <strong>um</strong>a briga <strong>de</strong><br />

fonoaudiólogos com professor que era infernal. Elas sentiam que estavam<br />

per<strong>de</strong>ndo espaço, pois era só <strong>educação</strong>, <strong>educação</strong>, <strong>educação</strong>.<br />

Analisando-se a questão sob o prisma bourdieusiano po<strong>de</strong>mos inferir que o<br />

quant<strong>um</strong> <strong>de</strong> capital cultural e social que os agentes possuem possibilita a sua circulação no<br />

jogo revelado no campo social e, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong>sse vol<strong>um</strong>e, vão <strong>de</strong>linear posições <strong>de</strong><br />

dominação ou subordinação. Daí a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se estudar “não só a posição dos<br />

agentes, mas também a trajetória que os levaria a ocupar essa posição” (BONNEWITZ,<br />

2003, p.90).<br />

78 C é professor do INES e conce<strong>de</strong>u entrevista à autora em 10 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2011.<br />

79 Essa diretora pedagógica conce<strong>de</strong>u entrevista à autora em 24 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2011.<br />

104

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!