A construção de um projeto de educação bilíngue para
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Primário, basicamente agrícola, que o Instituto <strong>de</strong>veria aten<strong>de</strong>r aos alunos<br />
do Rio <strong>de</strong> Janeiro e do Espírito Santo e pre<strong>para</strong>r professores<br />
especializados <strong>para</strong> trabalhar nos Institutos em outras províncias.<br />
Ou seja, em ambas as perspectivas há <strong>um</strong>a representação <strong>de</strong> surdos como<br />
<strong>de</strong>ficientes. Enquanto Tobias Leite limitava o universo educacional dos surdos ao ensino<br />
primário, Menezes Vieira não os via como socialmente viáveis.<br />
Esses embates ainda que gerassem tensão no cenário escolar também po<strong>de</strong>riam ser<br />
vistos sob <strong>um</strong>a perspectiva mais promissora, isto é, “(...) na segunda meta<strong>de</strong> do século XIX<br />
a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> carida<strong>de</strong> era substituída pela <strong>de</strong> formar cidadãos úteis (ROCHA, 2007, p. 46).<br />
O ponto <strong>de</strong> vista do Dr. Menezes Vieira pareceu se confirmar quando, na gestão do<br />
Dr. Custódio Ferreira Martins 17 (1907-1930), através do <strong>de</strong>creto n. 9.198/1911 o método<br />
oral puro foi adotado no ensino <strong>de</strong> todas as disciplinas, seguindo a tendência mundial na<br />
<strong>educação</strong> <strong>de</strong>sses discentes (ROCHA 2010, p. 61).<br />
Cabe nesse ponto da narrativa relembrar que o método oral encontrava-se em<br />
consonância com o <strong>para</strong>digma da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> em que cabia à medicina normatizar os<br />
corpos e à <strong>educação</strong> conformar as “mentalida<strong>de</strong>s” (HERSCHMANN e PEREIRA, 1994).<br />
Na medida em que a maioria dos diretores e alguns professores do INES eram médicos<br />
esse racionalismo e cientificismo eram a tônica das ações realizadas no Instituto.<br />
Contudo, esse diretor não ass<strong>um</strong>iu o discurso mo<strong>de</strong>rno prestigiado através do<br />
<strong>de</strong>bate científico, já que foi o ensino profissionalizante que ganhou <strong>de</strong>staque na Instituição.<br />
Rocha (2009, p.57) nos dá a dimensão <strong>de</strong>ssa priorida<strong>de</strong>:<br />
A gestão do Dr. Custódio Ferreira esteve mais voltada <strong>para</strong> as obras <strong>de</strong><br />
ampliação da se<strong>de</strong> e <strong>para</strong> o investimento nas oficinas, mesmo antes da<br />
instituição ser transformada por <strong>de</strong>creto em instituição <strong>de</strong> ensino<br />
profissionalizante. A projeção que o Instituto vai alcançar nesse período é<br />
da excelência do trabalho em suas oficinas.<br />
Em 1914 os resultados do trabalho pedagógico com o método oral puro não<br />
logravam resultados animadores e o diretor Custódio Martins fez alg<strong>um</strong>as tentativas <strong>de</strong><br />
apresentar ao governo fe<strong>de</strong>ral “(...) propostas <strong>de</strong> adaptar métodos <strong>de</strong> ensino mais<br />
a<strong>de</strong>quados às várias aptidões e capacida<strong>de</strong>s dos alunos do Instituto (ROCHA, 2010, p.62).<br />
17 O Dr. Custódio José Ferreira Martins (1857-1931) era político e foi presi<strong>de</strong>nte da província do Espírito<br />
Santo <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1884 a 3 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1885. Ass<strong>um</strong>iu a direção do INES <strong>de</strong> 1907 a 1930. Sua gestão<br />
foi conturbada, pois “as críticas vinham <strong>de</strong> todos os lados. A imprensa, <strong>de</strong> maneira geral, não o <strong>de</strong>ixava em<br />
paz, manchetes sensacionalistas o assombravam. Seus dias estavam contados e, com eles, os da República<br />
Velha (ROCHA, 2007, p.60).<br />
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