A construção de um projeto de educação bilíngue para
A construção de um projeto de educação bilíngue para
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Na apresentação dos anais do Seminário <strong>de</strong> 1997 encontramos <strong>um</strong> trecho que traduz<br />
o pensamento da direção do INES quanto às implicações <strong>para</strong> a instituição ao adotar a<br />
proposta <strong>bilíngue</strong>. O texto chama a atenção que a entrada da língua <strong>de</strong> sinais evoca<br />
inevitavelmente <strong>um</strong>a reconceitualização dos surdos e da sur<strong>de</strong>z secundarizando-se as<br />
questões metodológicas, anteriormente consi<strong>de</strong>radas o ponto crucial da <strong>educação</strong> <strong>de</strong>sses<br />
discentes. Atentemos <strong>para</strong> o teor <strong>de</strong>ssa mensagem:<br />
Pensar a <strong>educação</strong> <strong>de</strong> surdos ultrapassa o fato <strong>de</strong> se levar em<br />
consi<strong>de</strong>ração a coexistência <strong>de</strong> duas línguas no ambiente pedagógico. Há<br />
que se pensar o surdo como qualquer outro sujeito <strong>bilíngue</strong>, imerso em<br />
diferentes registros culturais, inscritos nas relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>terminadas<br />
historicamente na socieda<strong>de</strong>. A comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> surdos compartilha<br />
questões semelhantes às comunida<strong>de</strong>s linguísticas ditas minoritárias<br />
como os índios, ou imigrantes, ou povos colonizados que precisam lutar<br />
muito <strong>para</strong> terem afirmadas e reconhecidas sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural e<br />
linguística no contexto sócio-político em que vivem. Em <strong>de</strong>corrência<br />
<strong>de</strong>ssas consi<strong>de</strong>rações, é natural supor que o indivíduo apresente<br />
singularida<strong>de</strong>s relevantes em seu processo <strong>de</strong> aquisição do conhecimento.<br />
O papel da língua <strong>de</strong> sinais como primeira língua do surdo e como língua<br />
<strong>de</strong> instrução na escola, bem como a aquisição do português como<br />
segunda língua são alg<strong>um</strong>as das particularida<strong>de</strong>s a serem estudadas e<br />
discutidas pelos profissionais da sur<strong>de</strong>z.<br />
Logo após esse seminário as diretoras do DETEP e do DDHCT convocaram todos<br />
os professores <strong>para</strong> <strong>um</strong>a reunião 60 , realizada no auditório do INES, <strong>para</strong> que todos tivessem<br />
a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se expressar livremente a respeito dos temas que foram tratados no<br />
evento referido. Essas discussões tinham a intenção <strong>de</strong> traçar os planos do novo <strong>projeto</strong><br />
educativo da instituição.<br />
Nessa reunião vários assuntos foram tratados: as causas do fracasso escolar no<br />
INES, a visão que a socieda<strong>de</strong> e os professores da instituição nutriam em relação aos<br />
surdos e a sur<strong>de</strong>z, o tipo <strong>de</strong> escola que o INES tinha no momento e qual <strong>de</strong>sejava ter, o tipo<br />
<strong>de</strong> formação visl<strong>um</strong>brada <strong>para</strong> os alunos, o <strong>de</strong> currículo mais a<strong>de</strong>quado a esses discentes, a<br />
posição a serem ocupadas pela língua <strong>de</strong> sinais e a língua portuguesa no cenário escolar, o<br />
papel da fonoaudiologia <strong>de</strong>ntro da proposta <strong>bilíngue</strong> do INES, as alternativas que po<strong>de</strong>riam<br />
60 Essa reunião ocorreu no dia 20 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1997 no auditório do INES. “Por <strong>um</strong>a tar<strong>de</strong> inteira, cerca <strong>de</strong><br />
70 profissionais organizados em 9 grupos traçaram <strong>um</strong> painel contun<strong>de</strong>nte acerca do ensino praticado no<br />
INES e apresentaram propostas que referendavam o caminho que a instituição estava seguindo até então”<br />
(INES, 1998, p.2).<br />
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