A construção de um projeto de educação bilíngue para
A construção de um projeto de educação bilíngue para
A construção de um projeto de educação bilíngue para
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Para o autor, a escola continua apresentando <strong>um</strong> único mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> representação do<br />
normal, pinçado da cultura dominante, e que dificulta a <strong>construção</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong>a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />
própria que introduza naturalmente os surdos em sua cultura.<br />
Skliar (I<strong>de</strong>m, p.188) também <strong>de</strong>staca que somente através do encontro com seus<br />
pares é que os surdos po<strong>de</strong>rão construir <strong>um</strong>a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> que se encaminhe <strong>para</strong> suas<br />
próprias representações:<br />
[...] A transição da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> ocorre no encontro com o semelhante, on<strong>de</strong><br />
organizam-se novos ambientes discursivos. É o encontro surdo/surdo. Os<br />
surdos começam a se narrar <strong>de</strong> <strong>um</strong>a forma diferente, a serem<br />
representados por outros discursos, a estabelecer novas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s<br />
surdas, fundamentadas na diferença. Os contatos que os surdos<br />
estabelecem entre si proporcionam <strong>um</strong>a troca <strong>de</strong> diferentes<br />
representações da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> surda. Através <strong>de</strong> <strong>um</strong> conjunto <strong>de</strong><br />
significados, informações intelectuais, artísticas, sociais, éticas, estéticas,<br />
sociais, técnicas, etc. po<strong>de</strong>m se caracterizar as i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s surdas<br />
presentes n<strong>um</strong> grupo social com <strong>um</strong>a cultura <strong>de</strong>terminada.<br />
Para o autor, o enfrentamento das questões que se relacionam ao campo da sur<strong>de</strong>z<br />
<strong>de</strong>ve ser pensado em nível epistemológico, em que as relações entre conhecimento e po<strong>de</strong>r<br />
que atravessam as diferentes representações sobre a sur<strong>de</strong>z conduzam a reflexões <strong>de</strong><br />
dimensão política: a sur<strong>de</strong>z como <strong>um</strong>a diferença a ser politicamente reconhecida, em que a<br />
oficialização da língua <strong>de</strong> sinais é <strong>um</strong> começo, mas não o fim da luta dos surdos pelo seu<br />
reconhecimento político enquanto minoria linguística; a sur<strong>de</strong>z como <strong>um</strong>a experiência<br />
visual; a sur<strong>de</strong>z como <strong>um</strong>a diferença múltipla ou multifacetada e, finalmente, a sur<strong>de</strong>z<br />
localizada fora do discurso sobre a <strong>de</strong>ficiência.<br />
É <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssa perspectiva que a diferença, como significação política, é construída<br />
histórica e socialmente como fruto <strong>de</strong> <strong>um</strong> processo <strong>de</strong> conflitos, <strong>de</strong> movimentos sociais e<br />
<strong>de</strong> resistências às assimetrias <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e <strong>de</strong> saber.<br />
Nesse sentido, a direção formada pelo movimento protagonizado por professores e<br />
alunos do INES, na década <strong>de</strong> 1990, aponta <strong>para</strong> mais do que <strong>um</strong>a simples reivindicação <strong>de</strong><br />
entrada “oficial” da língua <strong>de</strong> sinais no cenário instrucional da instituição já que persegue<br />
<strong>um</strong>a nova representação sobre os surdos/sur<strong>de</strong>z que postula romper com o discurso clínico<br />
e a medicalização na <strong>educação</strong> <strong>de</strong> surdos, exigindo <strong>um</strong> olhar diferenciado <strong>para</strong> as<br />
concepções sociais, culturais e antropológicas da sur<strong>de</strong>z.<br />
Portanto, é nesse contexto em que se coloca em xeque o oralismo que o mo<strong>de</strong>lo<br />
<strong>bilíngue</strong> <strong>de</strong> <strong>educação</strong> <strong>para</strong> surdos encontra espaço <strong>para</strong> germinar.<br />
37