A construção de um projeto de educação bilíngue para
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2.2. Congresso <strong>de</strong> Milão: o <strong>de</strong>bate historiográfico sobre a <strong>educação</strong> <strong>de</strong> surdos<br />
As práticas <strong>de</strong> abordagem oralista na <strong>educação</strong> <strong>de</strong> surdos, ainda que predominantes,<br />
terão o respaldo, a partir do ano <strong>de</strong> 1880, <strong>de</strong> <strong>um</strong> congresso citado por todos os estudiosos<br />
da área da sur<strong>de</strong>z: o emblemático Congresso <strong>de</strong> Milão.<br />
Rocha (2010, p.21) <strong>de</strong>fine as orientações provenientes <strong>de</strong>sse congresso: “(...) com<br />
a presença <strong>de</strong> inúmeros profissionais ligados aos Institutos especializados, <strong>de</strong>creta que a<br />
utilização dos sinais no processo educacional dos surdos <strong>de</strong>ve ser suprimida, indicando o<br />
método oral como o mais a<strong>de</strong>quado” [grifo meu].<br />
Este congresso é visto, pela maioria dos autores que se <strong>de</strong>bruçam a estudar e<br />
pesquisar a <strong>construção</strong> histórica da <strong>educação</strong> <strong>de</strong> surdos, como a institucionalização do<br />
oralismo nos institutos do mundo todo. Isso se dá na medida em que foi <strong>um</strong> evento que<br />
contava com a credibilida<strong>de</strong> da maioria dos profissionais envolvidos com esse tipo <strong>de</strong><br />
<strong>educação</strong>. Assim, quando partiu <strong>de</strong>sse congresso a recomendação explicita <strong>de</strong> que a<br />
<strong>educação</strong> <strong>de</strong>stinada aos surdos utilizasse o método oral puro, suas orientações tiveram<br />
força <strong>de</strong> “lei”.<br />
Esses arg<strong>um</strong>entos encontram-se construídos na fala <strong>de</strong> Lane (1989) que Souza<br />
(1995) utilizou em sua obra <strong>para</strong> corroborar sua análise a respeito da <strong>construção</strong> do<br />
oralismo que, historicamente, sofreu forte influência dos eugenistas que postulavam o<br />
monolinguismo, ou seja, a circulação no país <strong>de</strong> somente sua língua oficial. Nesse sentido,<br />
a ameaça da proliferação da língua <strong>de</strong> sinais, que po<strong>de</strong>ria levar à proliferação da sur<strong>de</strong>z<br />
(com os casamentos endogâmicos) seria afastada e a socieda<strong>de</strong> majoritária ficaria livre<br />
tanto da entrada <strong>de</strong> <strong>um</strong>a língua <strong>de</strong>sconhecida como do a<strong>um</strong>ento <strong>de</strong> número <strong>de</strong> indivíduos<br />
surdos nascidos da união <strong>de</strong>stes com seus pares linguísticos.<br />
Capovilla( 2000) também comunga das i<strong>de</strong>ias dos autores citados acima na medida<br />
em que postula como explicação <strong>para</strong> a imposição do método alemão, preconizado por<br />
Samuel Heinick, a necessida<strong>de</strong> da Alemanha consolidar-se politicamente através <strong>de</strong> <strong>um</strong>a<br />
língua unificada e <strong>de</strong> <strong>um</strong>a homogeneida<strong>de</strong> étnica, avaliando, <strong>de</strong>sta feita, que o preconceito<br />
étnico <strong>de</strong>sdobrou-se em preconceito linguístico:<br />
(...) seu nacionalismo [da Alemanha] encontrava-se exacerbado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />
final do século XIX, enfatizando <strong>um</strong>a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural única e<br />
uniforme, padronizada e forte, em que não havia lugar <strong>para</strong> (...)<br />
diferenças, especialmente <strong>de</strong> linguagem e cultura (...) e os surdos<br />
passaram a escon<strong>de</strong>r-se e isolar-se (CAPOVILLA, 2000, p.102).<br />
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