A construção de um projeto de educação bilíngue para
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entre os métodos oralistas e gestualistas ainda que fundamentadas pela mesma i<strong>de</strong>ologia,<br />
como apontam os vários autores investigados.<br />
Para Lacerda (1998, p. 71) essa i<strong>de</strong>ologia é “(...) o oralismo como referencial<br />
ass<strong>um</strong>ido e as práticas educacionais vinculadas a ele amplamente <strong>de</strong>senvolvidas e<br />
divulgadas não sendo essa abordagem, praticamente, questionada por quase <strong>um</strong> século”.<br />
Segundo a autora esta seria <strong>um</strong>a forma <strong>de</strong> justificar <strong>um</strong> período <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> cem anos sem<br />
nenh<strong>um</strong>a mudança substancial na <strong>educação</strong> <strong>de</strong> surdos, permanecendo o mo<strong>de</strong>lo oralista<br />
como <strong>projeto</strong> predominante nesse campo da <strong>educação</strong>. A próxima seção procura, através<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>poimentos, oferecer mais subsídios <strong>para</strong> analisarmos a referida questão.<br />
2.3. A história recente na voz <strong>de</strong> professores do INES<br />
Po<strong>de</strong>mos observar a dimensão <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>bate a respeito da dicotomia oralismo e<br />
gestualismo se esten<strong>de</strong>ndo no século XX através do relato da professora Norma Nunes <strong>de</strong><br />
Souza, em carta que se encontra no Acervo do INES (15 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2008), na qual a<br />
docente se posiciona acerca <strong>de</strong>ssa discussão, relembrando que a predominância <strong>de</strong> métodos<br />
orais na instituição não impedia a circulação da linguagem <strong>de</strong> sinais entre os agentes<br />
escolares. Acompanhemos suas palavras:<br />
(...) A discussão sobre linguagem <strong>de</strong> sinais e falada é antiga e, ao meu<br />
ver, <strong>de</strong>snecessária. Sempre trabalhei usando as duas. A comunicação por<br />
sinais sempre foi necessária <strong>para</strong> o entendimento tanto entre os surdos<br />
como, também, com os ouvintes, <strong>um</strong>a vez que é mais fácil <strong>para</strong> aqueles.<br />
Quando nasce <strong>um</strong>a criança surda n<strong>um</strong>a família é <strong>um</strong> sofrimento pois, a<br />
criança não consegue externar suas necessida<strong>de</strong>s e vonta<strong>de</strong>s, nem a<br />
família consegue comunicação com ela. Assim, o aprendizado dos sinais<br />
torna-se <strong>um</strong>a benção <strong>para</strong> o bom entendimento, mas nada indica que <strong>um</strong>a<br />
pessoa surda não possa <strong>de</strong>senvolver a fala se não houver impedimento em<br />
seu aparelho fonador, principalmente, na era da eletrônica. Antigamente,<br />
quando ingressei no Curso Normal Especializado do INES, (1955),<br />
fizemos concurso e saímos do ginasial <strong>para</strong> o Normal, éramos muito<br />
jovens (entre14 e 16 anos) e, logo aprendíamos, com as crianças, a<br />
linguagem <strong>de</strong> sinais, mas, no curso, D. Ana Rímoli, que era <strong>um</strong>a técnica<br />
em <strong>educação</strong> muito culta e inteligente, procurou saber o que ia no mundo<br />
em matéria <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Surdos. Ela organizou <strong>um</strong>a classe<br />
experimental on<strong>de</strong> o método era oral total. Aliás, durante toda a vida do<br />
INES, foram fazendo sempre novas experiências sobre o mesmo tema.<br />
A coexistência da linguagem <strong>de</strong> sinais com os métodos orais, na direção <strong>de</strong> Ana<br />
Rímoli <strong>de</strong> Faria Dória (1951-1961) à primeira vista po<strong>de</strong> representar <strong>um</strong>a incoerência com<br />
relação à forte tradição oralista do Instituto a essa época. Porém, à revelia do método<br />
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