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A construção de um projeto de educação bilíngue para

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COAPP que era o coração <strong>de</strong>ssa mudança, pois era constituído como <strong>um</strong><br />

grupo <strong>de</strong> estudos on<strong>de</strong> semanalmente eu e Wilma [Favorito]<br />

participávamos com <strong>um</strong>a proposta <strong>de</strong> leitura. Começamos com<br />

Pedagogia da autonomia, <strong>de</strong> Paulo Freire, porque é <strong>um</strong> livro que<br />

respondia <strong>um</strong> pouco essas perguntas e eram leituras que a gente fazia<br />

sobre currículo, sobre <strong>educação</strong>, cultura e mensalmente vinha o Skliar<br />

<strong>para</strong> falar sobre <strong>um</strong> tema. Então o COAPP se constituía mesmo como <strong>um</strong><br />

grupo <strong>de</strong> trabalho, <strong>de</strong> estudo, <strong>de</strong> pensar a teoria do currículo (...)<br />

Outro investimento <strong>de</strong>sta gestão foi no ensino do português como segunda língua,<br />

n<strong>um</strong>a concepção sócio-interacionista, ass<strong>um</strong>indo-se a língua <strong>de</strong> sinais como a base<br />

linguística e como produtora <strong>de</strong> sujeitos sociais e históricos. Assim, foram <strong>de</strong>senvolvidos<br />

<strong>projeto</strong>s no sentido <strong>de</strong> promover o ensino da língua <strong>de</strong> sinais aos docentes e discentes da<br />

instituição. Essa ação <strong>de</strong>mandou a contratação <strong>de</strong> <strong>um</strong> contingente maior <strong>de</strong> profissionais<br />

surdos <strong>para</strong> atuarem em sala <strong>de</strong> aula com os professores ouvintes. E o produto <strong>de</strong> todas<br />

essas reflexões e ações começou a ser registrado, então, em 1998, nos primeiros textos que<br />

compuseram o Plano Político-Pedagógico 109 do CAP/INES.<br />

A forma inédita <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir a sur<strong>de</strong>z como <strong>um</strong>a “experiência visual”, produtora <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s surdas, portanto, e <strong>um</strong>a “diferença política”, acabou por criar <strong>um</strong> novo campo<br />

conceitual a partir <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los sócio-antropológicos, nos quais a língua <strong>de</strong> sinais<br />

representava <strong>um</strong> papel central na re<strong>construção</strong> educativa.<br />

Para as gestoras, em concordância com Skliar 110 , a experiência visual se traduzia no<br />

sentido <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r-se a sur<strong>de</strong>z não pela exacerbação do sentido da visão, como <strong>um</strong>a forma<br />

<strong>de</strong> compensar a audição perdida ou nunca experimentada pelo sujeito surdo, mas,<br />

sobretudo, “a todo sistema cognitivo do surdo estar baseado n<strong>um</strong> sistema visual”.<br />

Assim, o fato <strong>de</strong> não <strong>de</strong>finir a sur<strong>de</strong>z como <strong>um</strong>a <strong>de</strong>ficiência, apostando-se no seu<br />

extremo oposto, ou seja, na eficiência <strong>de</strong> <strong>um</strong>a experiência visual, representava a opção da<br />

instituição em confrontar-se radicalmente com o i<strong>de</strong>ário oralista, rompendo com os<br />

estereótipos e representações contidos no imaginário social sobre a sur<strong>de</strong>z inscrita no<br />

discurso da <strong>de</strong>ficiência, apostando-se na sua “<strong>construção</strong> histórica, comunitária e<br />

linguística, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da <strong>de</strong>ficiência sensorial” (INES, 1998a, p. 2).<br />

Porém, Skliar alerta que <strong>de</strong>svincular a sur<strong>de</strong>z do discurso e da prática da <strong>de</strong>ficiência<br />

é <strong>um</strong>a tarefa extremamente difícil já que são essas representações sobre a sur<strong>de</strong>z que ainda<br />

109 O texto do Plano Político-Pedagógico do CAP/INES foi realizado “pela equipe da COAPP, representantes<br />

da DISOP, representantes da DIFON, Chefia da DIESP e Direções do DETEP e DDHCT, através <strong>de</strong> reuniões<br />

<strong>de</strong> equipes, reuniões do Centro <strong>de</strong> Estudos e <strong>de</strong> dinâmicas, que envolveram todo o corpo técnico e docente do<br />

DETEP e DDHCT, além das contribuições do consultor Carlos Skliar e do monitor Alex Curione (INES,<br />

1998, p. 1).<br />

110 Esse trecho, <strong>de</strong> autoria <strong>de</strong> Carlos Skliar, foi capturado em sua reunião <strong>de</strong> consultoria dada no INES em 14<br />

<strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1998 (p.84).<br />

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