A construção de um projeto de educação bilíngue para
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promoveu <strong>um</strong>a série <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates a fim <strong>de</strong> oportunizar <strong>um</strong>a aproximação do corpo docente<br />
do INES com as universida<strong>de</strong>s em <strong>um</strong> diálogo com a <strong>educação</strong> geral, até então distante da<br />
realida<strong>de</strong> da instituição. Po<strong>de</strong>mos compreen<strong>de</strong>r as estratégias <strong>de</strong> ação da instituição nesse<br />
sentido através da fala da própria diretora do DETEP:<br />
(...) as pessoas já estavam com <strong>um</strong>a certa ansieda<strong>de</strong> [grifo meu], já<br />
estavam começando a <strong>de</strong>scobrir que a <strong>educação</strong> existia fora do INES. (...)<br />
e claro que eu vou escolher as pessoas pra trazer pra cá e elas vão falar<br />
em Vigostky, Piaget, <strong>de</strong> leitura <strong>de</strong> mundo <strong>de</strong> Paulo Freire, Emilia<br />
Ferreiro, vão ter contato com pares diferentes porque é isso que faz você<br />
se modificar, isso é <strong>educação</strong> (...) Então foi <strong>um</strong> movimento, <strong>de</strong>u o que<br />
falar, mas é claro que a gente não tinha a pretensão que isso fosse mudar<br />
no dia seguinte, absolutamente. A gente sabe que mudança, <strong>para</strong> ser <strong>um</strong>a<br />
mudança real, ela é gradativa, ela é lenta e você tem que ouvir várias<br />
pessoas e ir se modificando, não é você importar. Trazer <strong>de</strong> fora e colocar<br />
ali <strong>de</strong>ntro até por que as pessoas [os palestrantes] diziam que com surdo<br />
não tinham experiência. Então quem não estava nem tocada ainda dizia<br />
assim: “Tá vendo, pra que isso? Não sabe nada <strong>de</strong> surdo e vem aqui falar<br />
o quê? Vem pra cá, vem ver o que é bom pra tosse”. Assim era a<br />
conversa do dia a dia... Quem já estava incomodado, já estava tocado <strong>de</strong><br />
alg<strong>um</strong>a forma começou a dizer assim: “O que é isso? Isso é novo, eu<br />
nunca tinha ouvido, mas tem <strong>um</strong> monte <strong>de</strong> gente falando nisso (...).<br />
Dando continuida<strong>de</strong> ao relato, também se <strong>de</strong>preen<strong>de</strong> da fala da diretora que a<br />
instituição não tinha a intenção <strong>de</strong> impor ao cenário escolar a língua <strong>de</strong> sinais, porém a<br />
enxergava como <strong>um</strong>a forte aliada à prática pedagógica. Para isso promovia condições <strong>para</strong><br />
que o corpo docente fosse aos poucos <strong>de</strong>sejando <strong>de</strong> fato as mudanças. Porém isso não se<br />
fez <strong>de</strong> maneira tranquila. Foram muitos os embates que aconteceram no INES <strong>para</strong> que, <strong>de</strong><br />
fato, a língua <strong>de</strong> sinais fizesse parte do ensino, como veremos mais adiante.<br />
Voltemos ao seu relato:<br />
(...) mas eu, em nenh<strong>um</strong> momento, disse que o ensino passaria a ser<br />
feito em língua <strong>de</strong> sinais [grifo meu] Mas a gente foi caminhando pra<br />
dizer assim: ”A gente tem que dar conta do nosso trabalho, não tem? A<br />
gente não está falando aqui que a opção é discutir <strong>educação</strong>? Que nós, o<br />
INES, é <strong>um</strong>a escola também? Então a gente tem que ensinar, não é? E<br />
como é o jeito da gente ensinar? O jeito da gente ensinar é fazendo uso do<br />
elemento gráfico, muito visual, com muito <strong>de</strong>senho, com muito filme e<br />
sinalizando e escrevendo, é tudo, vamos lá.” E aí foi entendida a<br />
necessida<strong>de</strong> da sistematização da língua <strong>de</strong> sinais, <strong>de</strong> ter essa coisa <strong>de</strong><br />
<strong>um</strong>a pessoa surda, que no inicio foi informal, não foi institucionalizado,<br />
porque não existia nem intérprete e nem monitor surdo.<br />
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