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A construção de um projeto de educação bilíngue para

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O <strong>de</strong>poimento da professora B 24 , referindo-se também à década <strong>de</strong> 1980, época em<br />

que foi admitida na instituição, chama a atenção <strong>para</strong> a importância <strong>de</strong> analisarmos o<br />

contexto histórico no qual a <strong>educação</strong> geral, e também a <strong>educação</strong> especial, estava inserida,<br />

absorvendo, pois, suas visões <strong>de</strong> mundo:<br />

(...) o oralismo era absolutamente condizente com o <strong>para</strong>digma no qual<br />

estávamos inseridos. Isto é, nós fomos formados, in-formados no<br />

<strong>para</strong>digma aristotélico cartesiano, que pretendia <strong>um</strong> mundo estável,<br />

plano, mecânico, regular, padrão, normal (...) mas, com a física quântica a<br />

coisa mudou totalmente porque esse <strong>para</strong>digma mostrou sua insuficiência<br />

<strong>para</strong> respon<strong>de</strong>r as questões que se colocavam frente à ciência. Então as<br />

coisas foram mudando, mas <strong>um</strong>a mudança quando se pensa em<br />

<strong>para</strong>digma é lenta, leva gerações (...) O surdo era excluído porque não se<br />

enquadrava nesse olhar ao mundo dado pela ciência, sobretudo pela<br />

física. Não existe incoerência nenh<strong>um</strong>a no oralismo, ele serviu ao<br />

<strong>para</strong>digma clássico (...) e surdos e ouvintes sofreram pela imposição<br />

<strong>de</strong>sse <strong>para</strong>digma. O oralismo faz parte da história do surdo, da história do<br />

INES, da história do mundo (Congresso <strong>de</strong> Milão), isso é indiscutível.<br />

Para esta professora, o <strong>para</strong>digma da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> reverberava em todos os campos<br />

e o campo educacional também incorporava a visão <strong>de</strong> mundo em que a máxima era<br />

“civilizar-se”. E no caso específico da <strong>educação</strong> <strong>de</strong> surdos essa civilização passava<br />

naturalmente pela oralização <strong>de</strong>stes discentes, realizada a partir <strong>de</strong> bases racionais. Nesse<br />

sentido, <strong>para</strong> a docente, o oralismo representava <strong>um</strong> esforço dos profissionais e gestores<br />

envolvidos com a <strong>educação</strong> <strong>de</strong> surdos em integrá-los à socieda<strong>de</strong> e esta só po<strong>de</strong>ria se<br />

concretizar com o <strong>de</strong>senvolvimento da linguagem oral. A linguagem <strong>de</strong> sinais, nesse<br />

contexto, só faria aflorar a “anormalida<strong>de</strong>” dos surdos, daí a sua exclusão do cenário<br />

escolar. Ou seja, nesta perspectiva, a opção pelo oralismo seguia <strong>um</strong>a forte tendência <strong>de</strong><br />

inscrever os surdos em <strong>um</strong> mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> normalida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> civilização.<br />

A professora C 25 apresenta outro olhar <strong>para</strong> a questão. Para ela a instituição nunca<br />

apresentou <strong>um</strong>a tradição oralista, o que acontecia, frequentemente, era que durante as<br />

gestões que se sucediam, se evi<strong>de</strong>nciava <strong>um</strong> intercalar <strong>de</strong> métodos que ora faziam<br />

prevalecer a linguagem oral, ora a linguagem escrita. Porém chama a atenção, como nos<br />

relatos anteriores, <strong>para</strong> o fato da linguagem <strong>de</strong> sinais sempre ter feito parte do cotidiano da<br />

instituição. Segundo a <strong>de</strong>poente, na década <strong>de</strong> 1970, já existiam professores, como o<br />

24 Professora do INES. Entrevista concedida à autora em 10 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2011.<br />

25 Professora do INES. Entrevista concedida à autora em 10 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2011.<br />

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