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A construção de um projeto de educação bilíngue para

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Skliar (1997, p.45) atribui ao <strong>projeto</strong> <strong>de</strong> <strong>educação</strong> bilínge <strong>para</strong> surdos “<strong>um</strong> reflexo<br />

coerente – talvez o primeiro na história da <strong>educação</strong> <strong>de</strong> surdos – <strong>de</strong> <strong>um</strong>a situação e <strong>um</strong>a<br />

condição sociolinguística dos próprios surdos”.<br />

Porém, o autor adverte que o abandono progressivo da i<strong>de</strong>ologia clínica dominante<br />

e a aproximação aos <strong>para</strong>digmas sócio-culturais não po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>rados, por si só,<br />

como suficientes <strong>para</strong> afirmar a existência <strong>de</strong> <strong>um</strong> novo olhar educacional, pois o mo<strong>de</strong>lo<br />

<strong>bilíngue</strong> também po<strong>de</strong> mostrar <strong>um</strong>a sujeição aos princípios mo<strong>de</strong>rnos do ensino e<br />

representar <strong>um</strong>a perspectiva ouvintista 8 :<br />

(...) <strong>de</strong>terminadas representações sobre a <strong>educação</strong> <strong>bilíngue</strong> – e não<br />

somente ao que se refere ao caso dos surdos – po<strong>de</strong>m se constituir n<strong>um</strong>a<br />

ferramenta conservadora e politicamente eficaz <strong>para</strong> reproduzir <strong>um</strong>a<br />

i<strong>de</strong>ologia e <strong>um</strong>a prática orientada <strong>para</strong> o monolinguismo; utilizar a<br />

primeira língua do aluno <strong>para</strong> „acabar‟ rapidamente com ela, com o<br />

objetivo <strong>de</strong> „alcançar‟ a língua oficial (SKLIAR, 2005, p.10)<br />

Como po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>preen<strong>de</strong>r das proposições acima, o <strong>projeto</strong> <strong>bilíngue</strong> se impõe<br />

n<strong>um</strong>a realida<strong>de</strong> conflitiva que po<strong>de</strong> ser compreendida como <strong>um</strong> campo <strong>de</strong> disputas on<strong>de</strong><br />

variáveis que compõem as instituições educacionais, como o INES, estão atravessadas por<br />

mecanismos históricos, políticos, sociais e culturais.<br />

Neste sentido, o conceito <strong>de</strong> campo <strong>de</strong> Pierre Bourdieu muito tem a colaborar<br />

nessas análises, enten<strong>de</strong>ndo-se as instituições educacionais constituídas a partir <strong>de</strong> lutas<br />

históricas, em que os seus agentes sociais disputam posições nesse espaço social.<br />

Para Vasconcelos (2002, p.83)<br />

[...] A noção <strong>de</strong> campo representa <strong>para</strong> Bourdieu <strong>um</strong> espaço social <strong>de</strong><br />

dominação e <strong>de</strong> conflitos. Cada campo tem <strong>um</strong>a certa autonomia e possui<br />

suas próprias regras <strong>de</strong> organização e <strong>de</strong> hierarquia social. Como n<strong>um</strong><br />

jogo <strong>de</strong> xadrez, o indivíduo age ou joga segundo sua posição social neste<br />

espaço <strong>de</strong>limitado.<br />

O campo on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>u a relação <strong>de</strong> forças entre os agentes que, <strong>de</strong> <strong>um</strong> lado,<br />

almejavam manter a concepção conservadora, a oralista, e <strong>de</strong> outro, postulavam<br />

transformá-la (os a<strong>de</strong>ptos do mo<strong>de</strong>lo <strong>bilíngue</strong>) dão visibilida<strong>de</strong> às posições que esses<br />

agentes ocupavam no campo social <strong>de</strong> acordo com o capital ac<strong>um</strong>ulado “[...] no <strong>de</strong>correr<br />

<strong>de</strong> lutas anteriores, ao preço <strong>de</strong> <strong>um</strong> trabalho e <strong>de</strong> estratégias específicas” (BOURDIEU,<br />

1990, p.170).<br />

8 Skliar (2005) cunhou o termo ouvintismo consi<strong>de</strong>rando-o como <strong>um</strong> conjunto <strong>de</strong> representações dos<br />

ouvintes, a partir do qual o surdo é obrigado a olhar-se e narrar-se como ouvinte. É a partir <strong>de</strong>ssa ação que os<br />

surdos são levados a interiorizar percepções <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência, do não ser ouvinte; percepções estas que<br />

legitimam as práticas terapêuticas habituais. E o oralismo é a forma institucionalizada do ouvintismo cujo<br />

discurso hegemônico ainda vigora em várias partes do mundo.<br />

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