A construção de um projeto de educação bilíngue para
A construção de um projeto de educação bilíngue para
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entre alunos surdos e professores ouvintes? De que adianta a presença <strong>de</strong> intérpretes<br />
(língua portuguesa/língua <strong>de</strong> sinais e vice-versa) se o aluno não apren<strong>de</strong>u com seus pares a<br />
língua <strong>de</strong> sinais?<br />
Diante <strong>de</strong>ssas problematizações comungo das crenças <strong>de</strong> autores que vêm<br />
expressando <strong>um</strong>a <strong>de</strong>fesa pública a favor da <strong>educação</strong> <strong>bilíngue</strong> <strong>para</strong> surdos como Regina <strong>de</strong><br />
Souza (1997), Carlos Skliar (1997), Cristina Lacerda (1999), Ronice Quadros (1997),<br />
Maria Cecília Góes (1999), Sueli Fernan<strong>de</strong>s (1990) e Wilma Favorito (1996), entre outros.<br />
Em diálogo com os autores citados, não acredito que escolas <strong>para</strong> surdos possam<br />
ser visl<strong>um</strong>bradas como escolas segregacionistas. Afinal, por que outro grupo com língua e<br />
cultura próprias, refiro-me aos índios, po<strong>de</strong> ter suas escolas específicas e os surdos, em<br />
condições semelhantes, não?<br />
Essas conjecturas partiam do lugar social que eu ocupava e que me permitia ver a<br />
situação <strong>de</strong> acordo com a perspectiva guiada e gestada no campo empírico, ou seja, falando<br />
do chão da escola, partindo das reais dificulda<strong>de</strong>s observadas no dia a dia da prática<br />
pedagógica com os referidos discentes. Nesse sentido, supunha que a tarefa docente<br />
legitimava minha fala, mais do que qualquer política pública ou discurso i<strong>de</strong>ologizante que<br />
partisse <strong>de</strong> teóricos ou intelectuais da aca<strong>de</strong>mia que nunca passaram pela experiência <strong>de</strong><br />
dar aulas <strong>para</strong> surdos. Portanto, o bilinguismo, visl<strong>um</strong>brado nesta perspectiva, é visto como<br />
<strong>um</strong> direito inerente à pessoa surda.<br />
Nas escolas <strong>bilíngue</strong>s <strong>para</strong> surdos a primeira língua que esses discentes utilizam é a<br />
língua <strong>de</strong> sinais,“<strong>um</strong>a língua que os surdos criaram, <strong>de</strong>senvolveram e transmitiram <strong>de</strong><br />
geração em geração, <strong>um</strong>a língua, cuja modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recepção e produção é viso-gestual.”<br />
(SKLIAR, 2005, p.23)<br />
Para Quadros (1997), o bilinguismo <strong>para</strong> surdos é <strong>um</strong>a proposta educacional que<br />
visa tornar acessível <strong>para</strong> o aluno surdo a aprendizagem <strong>de</strong> duas línguas igualmente<br />
importantes <strong>para</strong> o seu <strong>de</strong>senvolvimento social, cognitivo e cultural: a língua <strong>de</strong> sinais e a<br />
língua portuguesa. Para a autora, a escola <strong>bilíngue</strong> <strong>para</strong> surdos é a mais a<strong>de</strong>quada <strong>para</strong><br />
esses sujeitos, pois parte da língua natural do surdo, a língua <strong>de</strong> sinais, <strong>para</strong> o ensino da<br />
língua padrão do país.<br />
Para Skliar (2005), a <strong>educação</strong> <strong>bilíngue</strong> <strong>para</strong> surdos requer muito mais do que <strong>um</strong>a<br />
mudança na pedagogia, mas a <strong>construção</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong>a i<strong>de</strong>ologia e <strong>de</strong> <strong>um</strong>a nova arquitetura<br />
educativa. Assim, o sucesso ou fracasso dos programas educacionais das escolas <strong>bilíngue</strong>s<br />
<strong>para</strong> surdos está diretamente vinculado ao tipo <strong>de</strong> programa <strong>bilíngue</strong> adotado.<br />
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