A construção de um projeto de educação bilíngue para
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Ainda que o comportamento estratégico da instituição escolar que se <strong>de</strong>dica à<br />
<strong>educação</strong> <strong>de</strong> surdos tenha <strong>um</strong> espaço <strong>de</strong>marcado (escolas especiais ou regulares), <strong>um</strong><br />
sistema <strong>de</strong> discursos homogeneizantes (oficiais, legais) e materialize seu po<strong>de</strong>r através da<br />
pedagogia corretiva/terapêutica, ainda assim, foi (ou vem sendo) alvo das astúcias dos<br />
surdos que aproveitando brechas, visualizando oportunida<strong>de</strong>s, subvertendo sorrateiramente<br />
(e até clan<strong>de</strong>stinamente) a or<strong>de</strong>m vigente vêm utilizando a língua <strong>de</strong> sinais, mesmo quando<br />
somente a língua oral da socieda<strong>de</strong> majoritária era reconhecida oficialmente.<br />
Skliar (2005) <strong>de</strong>u visibilida<strong>de</strong> a alg<strong>um</strong>as ações realizadas pelos surdos, ao longo do<br />
tempo, que <strong>de</strong>notavam <strong>um</strong>a resistência <strong>de</strong>sses sujeitos ao discurso dominante e que à luz<br />
<strong>de</strong> De Certeau po<strong>de</strong>riam ser consi<strong>de</strong>rados típicos comportamentos táticos que os surdos<br />
<strong>de</strong>senvolveram como forma <strong>de</strong> driblar, contornar as condutas dogmáticas da <strong>educação</strong><br />
especial garantindo sua existência histórica: a criação <strong>de</strong> associações <strong>de</strong> surdos como<br />
forma <strong>de</strong> usarem livremente e sem restrições a língua <strong>de</strong> sinais, sem a vigilância dos<br />
ouvintes; a forma clan<strong>de</strong>stina <strong>de</strong> utilizar a língua <strong>de</strong> sinais entre pares nos banheiros das<br />
escolas <strong>de</strong> concepção oralista, a astúcia <strong>de</strong> sinalizarem por <strong>de</strong>ntro das camisas,<br />
“enganando” seus inspetores e professores, etc.<br />
Outra aproximação que po<strong>de</strong>mos fazer com os conceitos <strong>de</strong>senvolvidos por De<br />
Certeau é com relação à visualização <strong>de</strong> brechas políticas, típicos comportamentos táticos,<br />
que fizeram com que os professores do INES, valendo-se da nova condição que a<br />
instituição alcançou em 1996, como centro <strong>de</strong> referência na área da sur<strong>de</strong>z, pu<strong>de</strong>ssem<br />
apresentar <strong>um</strong> corpo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias que visasse promover mudanças no ensino do INES<br />
aproximando-se <strong>de</strong> <strong>um</strong> <strong>projeto</strong> <strong>de</strong> <strong>educação</strong> <strong>bilíngue</strong>. Outra tática utilizada pelos<br />
professores que li<strong>de</strong>raram o movimento por mudanças foi o <strong>de</strong> se candidatarem às direções<br />
dos principais <strong>de</strong>partamentos do instituto, ac<strong>um</strong>ulando capital <strong>para</strong> introduzirem as<br />
mudanças necessárias nas concepções <strong>de</strong> ensino no INES.<br />
Foi, portanto, através <strong>de</strong> comportamentos táticos que alunos e professores do INES<br />
pu<strong>de</strong>ram se insinuar e anunciar sorrateiramente <strong>um</strong> novo discurso no campo da <strong>educação</strong><br />
<strong>de</strong> surdos, estando por trás <strong>de</strong>sses movimentos <strong>um</strong>a recusa <strong>de</strong>sses agentes sociais em se<br />
i<strong>de</strong>ntificarem com a or<strong>de</strong>m estabelecida (o mo<strong>de</strong>lo oralista com sua concepção <strong>de</strong> surdo e<br />
sur<strong>de</strong>z).<br />
Portanto, tendo anunciado alguns conceitos que serão mais aprofundados no<br />
capítulo 4, articulados ao campo empírico, passo a <strong>de</strong>screver a metodologia utilizada na<br />
pesquisa.<br />
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