08.05.2013 Views

A construção de um projeto de educação bilíngue para

A construção de um projeto de educação bilíngue para

A construção de um projeto de educação bilíngue para

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

somente como <strong>um</strong> po<strong>de</strong>r exercido através <strong>de</strong> leis e seria ingenuida<strong>de</strong> pensar que surgiu,<br />

simplesmente, graças a <strong>um</strong> <strong>de</strong>creto em <strong>um</strong> momento preciso da história” (SKLIAR, 1997,<br />

p.35). Ou seja, a “força <strong>de</strong> lei”do Congresso <strong>de</strong> Milão foi nada mais, nada menos do que a<br />

consolidação do oralismo que já vinha sendo construído há séculos.<br />

Enten<strong>de</strong>ndo-se a história como <strong>um</strong> complexo esforço <strong>de</strong> se reconstruir o que já não<br />

existe mais e sendo <strong>um</strong>a “operação intelectual e laicizante que <strong>de</strong>manda análise e discurso<br />

crítico” (NORA, 1993, p.9), o historiador <strong>de</strong>ve, como preconiza Le Goff (2003), fazer <strong>um</strong><br />

esforço no sentido <strong>de</strong> encarar o doc<strong>um</strong>ento que analisa como <strong>um</strong> mon<strong>um</strong>ento que precisa<br />

ser <strong>de</strong>spido <strong>de</strong> toda a verda<strong>de</strong> absoluta que postula anunciar sendo estudado em todas as<br />

suas dimensões e interfaces.<br />

Para que essa operação intelectual seja feita é indispensável que se consi<strong>de</strong>re o<br />

contexto sócio-histórico-político em que foi produzido tal doc<strong>um</strong>ento. Para Hobsbawm<br />

(1996, p.88) “apren<strong>de</strong>r a fazer história significa também apren<strong>de</strong>r a cruzar fontes, produzir<br />

embates entre elas, introduzir-se nos conflitos <strong>de</strong> interpretações sobre <strong>um</strong>a evidência (...)<br />

ass<strong>um</strong>ir o caráter <strong>de</strong>tetivesco do historiador”.<br />

Esta característica do historiador acaba por colocar em xeque, muitas vezes, a<br />

memória coletiva 20 <strong>de</strong> muitos grupos. No entanto é sua função conhecer as condições em<br />

que o doc<strong>um</strong>ento, artefato cultural, foi produzido, prescrutando-lhes as verda<strong>de</strong>iras<br />

intenções que carrega e todos os conflitos que subjazem às relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r no qual foram<br />

forjados. Le Goff (2003, p.538) tem esse entendimento quando afirma categoricamente:<br />

O doc<strong>um</strong>ento é mon<strong>um</strong>ento. Resulta do esforço das socieda<strong>de</strong>s históricas<br />

<strong>para</strong> impor ao futuro - voluntária ou involuntariamente - <strong>de</strong>terminada<br />

imagem <strong>de</strong> si próprias. No limite, não existe <strong>um</strong> doc<strong>um</strong>ento-verda<strong>de</strong>.<br />

Todo doc<strong>um</strong>ento é mentira. Cabe ao historiador não fazer o papel <strong>de</strong><br />

ingênuo (...) É preciso começar por <strong>de</strong>smontar, <strong>de</strong>molir esta montagem,<br />

<strong>de</strong>sestruturar esta <strong>construção</strong> e analisar as condições <strong>de</strong> produção dos<br />

doc<strong>um</strong>entos-mon<strong>um</strong>entos.<br />

Rocha (2010), ao analisar os temas geradores, disponíveis nas atas do Congresso <strong>de</strong><br />

Milão, que foram levantados <strong>para</strong> fomentar as discussões travadas pelos principais<br />

representantes das mais importantes instituições <strong>de</strong> surdos da Europa e América Latina,<br />

20 Por memória coletiva, Motta (1998), enten<strong>de</strong> o conjunto <strong>de</strong> recordações comuns que pertencem a<br />

<strong>de</strong>terminados grupos sociais e que são assegurados através das repetições <strong>de</strong> narrativas dos acontecimentos<br />

ocasionando <strong>um</strong>a coesão e sentimento <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> entre esses grupos. Para Halbwachs (1990 apud<br />

LOPES, 2006) a memória coletiva po<strong>de</strong> forjar mitos que servem <strong>de</strong> bálsamo em momentos <strong>de</strong> crise e<br />

<strong>de</strong>sesperança, romanceando e i<strong>de</strong>alizando, assim, <strong>um</strong>a época prodigiosa. Esse autor também chama a atenção<br />

<strong>para</strong> o processo <strong>de</strong> “negociação” que visa conciliar memória coletiva e memórias individuais.<br />

60

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!