A construção de um projeto de educação bilíngue para
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<strong>de</strong> quase 120 anos”, esses sim eram passíveis <strong>de</strong> avaliação. E nesse sentido se<br />
caracterizavam pelo fracasso escolar, recorrentemente alar<strong>de</strong>ado pela literatura do campo.<br />
Outro ponto polêmico da consultoria <strong>de</strong> Carlos Skliar era a <strong>de</strong> que ele estaria<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo, na avaliação <strong>de</strong> alguns professores, <strong>um</strong> monolínguismo <strong>de</strong> sinais na medida<br />
em que outorgava à língua <strong>de</strong> sinais <strong>um</strong>a relevância no cenário educacional nunca antes<br />
vivenciada no Instituto. Isso fica claro no <strong>de</strong>poimento da professora C 88 ao se referir ao<br />
consultor:<br />
Nunca entrou n<strong>um</strong>a sala <strong>de</strong> aula, nunca <strong>de</strong>u aula <strong>para</strong> surdos, então as<br />
pessoas reagem mesmo, a massa critica reagiu porque ele vinha com <strong>um</strong><br />
discurso: “eu sou monolíngue, o que eu estou propondo é <strong>um</strong>a escola<br />
monolíngue”. Se você propuser hoje <strong>um</strong>a escola monolíngue, você ainda<br />
não tem condições objetivas na história <strong>para</strong> isso... Propõe o<br />
monolinguismo hoje no Instituto que você não tem condições <strong>para</strong><br />
encarar isso. Ele falava isso lá, e a gente ainda tentava enten<strong>de</strong>r o que era<br />
isso...<br />
Segundo a mesma professora, as i<strong>de</strong>ias postuladas pelo consultor causaram “<strong>um</strong><br />
impacto muito gran<strong>de</strong> e <strong>um</strong> pouco <strong>de</strong> resistência àquele pensamento, como ele foi<br />
apresentado, pois a gente não tinha <strong>um</strong>a discussão formulada até <strong>para</strong> enten<strong>de</strong>r certas<br />
complexida<strong>de</strong>s”. Essa professora também alerta que <strong>um</strong>a opção política e curricular pela<br />
valorização da língua <strong>de</strong> sinais, sem ser acompanhada por igual valorização da língua<br />
portuguesa, po<strong>de</strong>ria (po<strong>de</strong>) comprometer o futuro profissional dos alunos:<br />
Os monolíngues estão limpando o chão... Eles são li<strong>de</strong>res aqui,<br />
excelentes meninos, inteligentes, capazes, com acesso ao currículo via<br />
língua <strong>de</strong> sinais maravilhoso, mas na hora da empregabilida<strong>de</strong> eles falam<br />
assim “mas não lê <strong>um</strong> pouquinho? Nem os lábios? Não escreve alg<strong>um</strong>a<br />
coisa? Então não serve, volta.” (...) Porque você empurra com sua<br />
convicção política o sujeito <strong>para</strong> o nada (...) a não ser que ele fique<br />
trabalhando com o surdo. Aí ele vai fazer pedagogia surda, ele vai virar<br />
instrutor, vai virar professor <strong>de</strong> Libras, vai virar assistente educacional,<br />
tudo bem, mas isso aí é 1% <strong>de</strong> 1.000.000.<br />
Para Skliar, sua consultoria nunca pregou o monolinguismo <strong>de</strong> sinais, apenas<br />
alertou com veemência que, <strong>para</strong> que <strong>um</strong> <strong>projeto</strong> <strong>bilíngue</strong> <strong>de</strong> fato fosse construído pela<br />
instituição, a aprendizagem da língua <strong>de</strong> sinais <strong>de</strong>veria prece<strong>de</strong>r qualquer outro<br />
investimento, pois sem essa base linguística conceitual os surdos não po<strong>de</strong>riam lograr êxito na<br />
aprendizagem <strong>de</strong> <strong>um</strong>a segunda língua, no caso, a língua portuguesa. Acompanhemos seu relato:<br />
Jamais <strong>de</strong>fendi esse monolinguismo, eu só opinei que o bilinguismo <strong>para</strong><br />
mim só teria sentido com <strong>um</strong>a política e com <strong>um</strong>a imersão muito forte da<br />
88 C é professora do INES e conce<strong>de</strong>u entrevista à autora em 10 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2011.<br />
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