Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
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três vezes mais africanos do que brancos e morenos...” 15 A referência à Roma escravista e<br />
à luta servil confer<strong>em</strong> o símbolo engran<strong>de</strong>cedor à insurreição dos africanos. Ela foi a maior<br />
ocorrida na Bahia. Durante as primeiras décadas do século XIX houve muitas: <strong>em</strong> 1807,<br />
1809, 1814, 1816, 1826, 1827, 1828, 1829, 1830 16 e 1835. No entanto, foi a Revolta dos<br />
Malês a escolhida por <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong>. A única, segundo ele, “que teve um caráter <strong>de</strong><br />
insurreição geral, político-religiosa, <strong>de</strong>stinada a acabar com os proprietários e também com<br />
a sua Igreja, com o seu governo e o seu culto, com os seus haveres e as suas leis” 17 .<br />
Entretanto, não preten<strong>de</strong>u com isso exaltar a resistência escrava ou a luta <strong>de</strong>stes pela<br />
liberda<strong>de</strong>. Ao contrário, é a sua <strong>de</strong>rrota que interessa, a forma como os aristocratas<br />
subjugaram os rebel<strong>de</strong>s e retomaram a ord<strong>em</strong> <strong>de</strong> seu mundo ameaçado por “pessoas que<br />
pareciam privadas <strong>de</strong> todo siso e mal linguajavam o idioma civilizado” 18 . Na <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong><br />
<strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong>, os africanos são pintados à imag<strong>em</strong> da barbárie, e a <strong>de</strong>rrota que ele lhes<br />
impõe no enredo advém não apenas das ações <strong>de</strong>cisivas dos fidalgos, mas também da<br />
traição <strong>em</strong>anada do seio dos rebel<strong>de</strong>s, e da própria <strong>de</strong>sorganização dos africanos -<br />
incapazes <strong>de</strong> arquitetar gran<strong>de</strong>s planos.<br />
A fim <strong>de</strong> buscar inspiração para a escrita <strong>de</strong> seu romance, <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> refugia-se<br />
no mesmo cenário apresentado na novela Alma <strong>de</strong> Preta:<br />
100<br />
Reunindo no engenho <strong>de</strong> açúcar <strong>de</strong> Mataripe as condições <strong>de</strong> vida do recôncavo,<br />
agrícola e industrioso, da época, timbrou o autor <strong>em</strong> retocar paisagens e<br />
l<strong>em</strong>branças que a tradição <strong>de</strong> melhor quilate lhe transmitiu. [Malês, p.153]<br />
O autor busca suas próprias raízes durante a elaboração da obra – como explicou<br />
no fim do livro. Chamou a si esta tradição dos engenhos – representações do po<strong>de</strong>r<br />
econômico e patriarcal - e <strong>de</strong>clarou ser legatário da melhor estirpe, aproveitando para<br />
15 Malês, p.185.<br />
16 Ver: REIS, João José. Rebelião Escrava no Brasil: a história do levante dos malês <strong>em</strong> 1835. Ed. revista. e<br />
ampliada. São Paulo: Cia das Letras, 2003. p.68-121.<br />
17 Malês, p.151.<br />
18 Ibid., p.148.