Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
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história <strong>de</strong> autonomia e progresso. É sobre essas bases que <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> edifica o seu<br />
mestiço. Vejamos as suas feições.<br />
2.1.1. Não existe pecado do lado <strong>de</strong> baixo do equador<br />
Foi a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> elevação do estatuto do mestiço, discutida nos anos 1920,<br />
que <strong>de</strong>u a <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensar na elaboração <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong><br />
mestiça, ou média, como preferiu chamar. Sua escolha, no entanto, enfrentava um <strong>de</strong>safio.<br />
Ao <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<strong>em</strong> os doutos que os mestiços po<strong>de</strong>riam ser pessoas mais capazes através da<br />
instrução e/ou da eugenia 72 , estavam se referindo a um t<strong>em</strong>po no futuro, após a<br />
impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> ações estatais que os fizess<strong>em</strong> educar e melhorar o sangue. Mas, cogitar<br />
a consolidação do tipo mestiço e brasileiro no século XVII, e elevá-lo a construtor <strong>de</strong> uma<br />
civilização, já se tratava <strong>de</strong> uma questão b<strong>em</strong> diferente. Para ver esta sua tese aceita entre<br />
os pares, <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> tratou <strong>de</strong> construir o seu “indivíduo médio” com muito cuidado e<br />
zelo, inclusive evitando discorrer sobre suas possíveis características físicas, que só<br />
evi<strong>de</strong>nciariam os aspectos biológicos da mestiçag<strong>em</strong>.<br />
Compreen<strong>de</strong>ndo o início da história brasileira a partir da chegada do português,<br />
consi<strong>de</strong>rado indivíduo civilizador, é ele o el<strong>em</strong>ento (branco) que <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> introduz na<br />
base do processo <strong>de</strong> miscigenação, <strong>em</strong> uma escolha que lhe pareceu óbvia. Afinal, fora o<br />
português qu<strong>em</strong> estabelecera as instituições, dominara o gentio, <strong>em</strong> parte assimilado ou<br />
eliminado 73 , e tratara <strong>de</strong> planejar e organizar o território on<strong>de</strong> até então só havia uma<br />
“população indígena que vagava” 74 , na menção do historiador. Seguindo a mesma<br />
interpretação, que assume a construção do Estado como linha do avanço civilizatório, é<br />
72 Ver: MARQUES, Vera Regina Beltrão. A Medicalização da Raça: Médicos, Educadores e Discurso<br />
Eugênico. Campinas, SP: Ed. Unicamp, 2004.<br />
73 HCB, p.34.<br />
74 Ibid., p.21.<br />
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