Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
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125<br />
EXPLICAÇÃO<br />
Cenas do velho Brasil...<br />
Pertence este livro a uma série, que, b<strong>em</strong> ou mal, se continua. A “O Tesouro <strong>de</strong> Belchior”<br />
(a socieda<strong>de</strong> no século XVIII) se seguiram “O Crime <strong>de</strong> Antonio Vieira”, “O Rei<br />
Cavaleiro”, “A Bala <strong>de</strong> Ouro”.<br />
O drama <strong>de</strong> escravos revoltados é, como os dois últimos, um painel romântico.<br />
Nitidamente histórico. Foi <strong>em</strong> 1835. Houve na Bahia uma insurreição <strong>de</strong> muçulmanos<br />
Malês que ameaçou a província – a religião e a raça. Milhares <strong>de</strong> cativos tentaram,<br />
<strong>de</strong>sfraldando a ban<strong>de</strong>ira ver<strong>de</strong> do Profeta na calada <strong>de</strong> uma noite trágica, proclamar a<br />
monarquia negra.<br />
Recortam-se no horizonte da catástrofe <strong>em</strong>inentes figuras nacionais. Elas viveram.<br />
Elas sofreram. “É a verda<strong>de</strong> que eu conto...”<br />
P. C. [Malês, p.5, grifos meus]<br />
À vista <strong>de</strong>ssas consi<strong>de</strong>rações, e avaliando que mesmo sendo um romance Malês<br />
possui um conteúdo histórico, o leitor <strong>de</strong>savisado acaba induzido a confundir el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong><br />
história e literatura. Esta atitu<strong>de</strong> adquire reforço pela própria ambivalência do autor que,<br />
além <strong>de</strong> novelista, era também conhecido como historiador – o que é logo explicitado no<br />
título do artigo que lhe foi <strong>de</strong>dicado por Carlos Chiacchio no jornal A TARDE: “<strong>Pedro</strong><br />
<strong>Calmon</strong>, O historiador e o novelista” 90 . A aproximação entre as duas ativida<strong>de</strong>s lhe<br />
valeram algumas críticas - quando concluiu Malês, recebeu conselhos <strong>de</strong> amigos para<br />
tentar o romance s<strong>em</strong> a história ou a história s<strong>em</strong> o romance 91 . Mas a parca distinção entre<br />
história e literatura nesta sua novela já estaria registrada nos mil ex<strong>em</strong>plares editados, e nas<br />
partes seriadas que foram republicadas <strong>em</strong> folhetim pelo A TARDE, influenciando os<br />
futuros estudos sobre a Revolta dos Malês.<br />
A construção <strong>de</strong> Malês, para além <strong>de</strong> inscrever <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> no rol dos estudiosos<br />
sobre o t<strong>em</strong>a do levante – incluindo a responsabilida<strong>de</strong> pela <strong>de</strong>finitiva inserção <strong>de</strong> Luiza<br />
Mahim no contexto da revolta 92 - refletiu o estatuto do negro na socieda<strong>de</strong> dos anos 1930.<br />
Como ensina E. P. Thompson, “todo significado é um significado-<strong>de</strong>ntro-<strong>de</strong>-um-<br />
90<br />
CHIACCHIO, Carlos. “<strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong>, o historiador e o novelista”. In: A TARDE. Salvador, 27 <strong>de</strong> abr.<br />
19<strong>33</strong>.<br />
91<br />
CALMON, <strong>Pedro</strong>. M<strong>em</strong>órias. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1995. p.185.<br />
92<br />
O texto <strong>de</strong> <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> inaugura a participação <strong>de</strong> Luiza Mahim na revolta <strong>de</strong> 1835. Cf.: ARAÚJO,<br />
Mariele S. Luiza Mahim, uma “Princeza” Negra na Bahia dos Anos 1930. <strong>Discursos</strong> <strong>de</strong> Cultura e Raça<br />
no Romance-Histórico <strong>de</strong> <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong>, “Malês, A Insurreição das Senzalas” (19<strong>33</strong>). Monografia <strong>de</strong><br />
Especialização <strong>em</strong> História Social e Educação. UCSAL, 2003.