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Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...

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histérica, as mesmas beberagens agridoces e as comidas da predileção <strong>de</strong> cada santo, as<br />

mesmas <strong>de</strong>scompassadas cenas <strong>de</strong> candomblé indígena” 66 .<br />

Refletindo no romance as <strong>em</strong>ergências <strong>de</strong> seu próprio t<strong>em</strong>po, <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> reserva<br />

um capítulo da obra, “Orixás”, para reproduzir uma batida policial a um terreiro - ação tão<br />

comum à sua época, mas pouco afeita à primeira meta<strong>de</strong> do século XIX, período do<br />

<strong>de</strong>senrolar da trama. A propósito <strong>de</strong> encontrar os envolvidos na rebelião, o chefe <strong>de</strong> polícia<br />

Gonçalves Martins promove uma “varejada” no terreiro <strong>de</strong> Pai José dos Milagres. A cena,<br />

narrada pelo autor, não <strong>de</strong>scuida <strong>de</strong> expressar os mesmos signos das “batidas” cobertas<br />

pelos jornais <strong>de</strong> seu período, quando policiais e escrivães iam cumprir mandados <strong>de</strong> busca<br />

e apreensão, com o autorizado uso da violência 67 . No romance, “com o bico da bota, o<br />

chefe <strong>de</strong> polícia arrombou a porta do casebre, seguido por soldados <strong>de</strong> baionetas ao ombro,<br />

alguns guardas nacionais <strong>de</strong> talabartes cruzados sobre as jaquetas <strong>de</strong> alpaca, um escrivão<br />

com o seu gran<strong>de</strong> livro sob o braço” 68 .<br />

Embora a ida do chefe <strong>de</strong> polícia ao terreiro não tivesse sido motivada pela<br />

apreensão <strong>de</strong> material <strong>de</strong> Candomblé – seu interesse era pren<strong>de</strong>r suspeitos <strong>de</strong> participar<strong>em</strong><br />

do levante – o escritor não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> transmitir aos leitores as sensações que Gonçalves, um<br />

hom<strong>em</strong> branco, experimentou estando naquele “antro”:<br />

117<br />

Nunca um hom<strong>em</strong> branco lá entrara. Escancarada a porta, um cheiro acre <strong>de</strong> herbário, como<br />

<strong>de</strong> uma botica, <strong>de</strong> benjoim e sândalo, <strong>de</strong> imundice e mofo, entonteceu o Dr. Gonçalves. Ele<br />

mesmo retirou as trancas aos postigos, para que o ar da manhã entrasse, varrendo aquele<br />

bodum. E olhou á volta. A sala do babalaô era um santuário. Uma catedral <strong>de</strong> orixás. Um<br />

c<strong>em</strong>itério <strong>de</strong> monstros. [ Malês, p.103-4, grifos meus]<br />

A impressão <strong>de</strong> “imundice e mofo” era uma reação já esperada pelo público,<br />

acostumado às notícias <strong>de</strong> jornal que também <strong>de</strong>screviam as “varejadas” - também <strong>de</strong><br />

maneira pejorativa, aproximando a imag<strong>em</strong> dos orixás à figuras <strong>de</strong> “monstros”. Ad<strong>em</strong>ais, a<br />

66 Malês, p.25-6.<br />

67 Cf: BRAGA, Júlio. Na Gamela do Feitiço: repressão e resistência nos candomblés da Bahia. Salvador:<br />

EDUFBA, 1995. p.126.<br />

68 Malês, p.104.

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