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Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...

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<strong>de</strong>scrição do autor – bêbada, s<strong>em</strong>inua, com o olhar “fosco e bovino”, que mais a aproxima<br />

à um animal, como nas figuras “bizarras” <strong>de</strong>scritas no Capítulo 1. A cena é narrada por<br />

<strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> através <strong>de</strong> movimentos pretensamente ritualísticos e expressa valores<br />

pejorativos associados à cultura negra:<br />

115<br />

Uma jov<strong>em</strong> [Luiza Mahim], <strong>de</strong> chale riscado sobre a cabeça, soprava, aos pés do “pai <strong>de</strong><br />

santo”, as brasas <strong>de</strong> um turíbulo, e outra pretinha <strong>de</strong> camiseta leve escorregando pelos<br />

braços, o olhar fosco e bovino, recen<strong>de</strong>ndo á cachaça, guardava o ídolo. Á volta, os<br />

músicos, sentados sobre os calcanhares, tamborilavam com os <strong>de</strong>dos nos tambores <strong>de</strong> barro<br />

(rumpis) e nos atabaques <strong>de</strong> tanoaria, agitavam ganzás e agogôs, <strong>de</strong> dupla campânula, e três<br />

raparigas mais claras, a saia suspensa, a perna nua colteando, na face um esgar <strong>de</strong><br />

d<strong>em</strong>ência, os lábios espumejando, rodavam, num ritmo acelerado [...]<br />

Afinal, como doidas, as dançarinas aceleravam o rodopio, giravam alucinadas, metiamse<br />

num espiral <strong>de</strong> pó que os seus pés velozes levantavam, e alongavam os braços para o<br />

céu, como se quisess<strong>em</strong> subir perpendicularmente, com a coluna do incenso queimado ao<br />

orixá. [ Malês, p.28, grifos meus]<br />

A associação entre o Candomblé e a lascivida<strong>de</strong>, imoralida<strong>de</strong>, bagunça, <strong>de</strong>sord<strong>em</strong>,<br />

ignorância, era atestada nos relatos jornalísticos e policiais da época, que “confundiam”<br />

Candomblé com prática <strong>de</strong> feitiçaria e exercício <strong>de</strong> falsa medicina. Essa era a <strong>de</strong>ixa para<br />

ação policial, vez que a Constituição, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1824, protegia a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> culto religioso 62 .<br />

Mas, na visão das classes dirigentes, Candomblé era apenas uma bagunça <strong>de</strong> negros<br />

<strong>de</strong>sregrados, bárbaros e ignorantes. Por isso, o que se associasse ao rito era vítima <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>squalificação e violência. Os próprios instrumentos rituais eram alvo <strong>de</strong> agressão e,<br />

quando não <strong>de</strong>struídos, eram recolhidos para museus, como o do Instituto Geográfico e<br />

Histórico da Bahia, s<strong>em</strong> a dispensa <strong>de</strong> <strong>de</strong>scrições ruinosas da imprensa, estendidas aos<br />

t<strong>em</strong>plo, fiéis e tudo mais que a eles estivesse relacionado:<br />

[...] Lá estava, repimpado, ridículo, o santo Omolú, <strong>de</strong>us da bexiga, e outros respeitáveis,<br />

tais como S. João, S. Jorge, etc., Oxalá também se encontrava naquele antro <strong>de</strong> perversão<br />

e ignomínia, <strong>em</strong> que se respirava uma atmosfera <strong>de</strong> nojo e asco, <strong>de</strong> repugnância e mal<br />

estar. Cabaças, cuias, velas acesas, todos os apetrechos ignóbeis da seita bárbara<br />

enchiam o quarto e lhe <strong>em</strong>prestavam um aspecto infernal. 63 [grifos meus]<br />

62<br />

Ver: MAGGIE, Yvonne. O Medo do Feitiço: Relações entre Magia e Po<strong>de</strong>r no Brasil. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Arquivo Nacional, 1992.<br />

63<br />

A TARDE. Salvador, 20 ago. 1928. Apud RAMOS, Arthur. O Negro Brasileiro. Etnografia religiosa e<br />

psicanálise. 2 a . ed., Recife: Fundaj/ Ed. Massangana, 1988. p.106.

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