Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
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Entretanto, é por conta <strong>de</strong>ste <strong>de</strong>senrolar da rebelião, dos acontecimentos <strong>de</strong> batalha,<br />
e mesmo <strong>de</strong> suas conseqüências, que Malês abre mais espaço ao negro do que a História<br />
da Civilização Brasileira. Se nas páginas que tratam da formação da nacionalida<strong>de</strong><br />
brasileira <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> pouco comentou sobre o negro e sua influência na formação <strong>de</strong><br />
nosso caráter, <strong>em</strong> Malês a sua presença fica evi<strong>de</strong>nte na conformação dos grupos africanos<br />
que participam da contenda: “nagôs” e malês, segundo a sua classificação.<br />
3.3. OS AFRICANOS<br />
Os africanos <strong>de</strong>lineados no romance divid<strong>em</strong>-se <strong>em</strong> duas etnias que possu<strong>em</strong> como<br />
primeira linha <strong>de</strong> distinção sua filiação religiosa. T<strong>em</strong>os assim malês, filiados ao Islam, e<br />
nagôs, a<strong>de</strong>ptos do Candomblé. No entanto, a classificação estabelecida por <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong><br />
contraria a direção indicada por gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> estudiosos do t<strong>em</strong>a. Segundo João José<br />
Reis, na Bahia, “malê” não se refere a nenhuma etnia africana particular, mas a qualquer<br />
africano que tivesse adotado o Islam 37 . Assim, eram encontrados na Bahia nagôs que<br />
também eram muçulmanos - nagôs malês. Tal indicação já havia sido dada por Nina<br />
Rodrigues <strong>em</strong> período anterior à publicação do livro <strong>de</strong> <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong>. Mas o autor não<br />
seria o primeiro a estabelecer esse tipo <strong>de</strong> confusão, ao consi<strong>de</strong>rar o termo malê como<br />
<strong>de</strong>signação <strong>de</strong> uma nação específica 38 . Diante <strong>de</strong>sta classificação equivocada, tipifica seus<br />
malês e nagôs <strong>de</strong> uma forma muito própria, ditando-lhes características que acordam com<br />
os discursos raciais da época.<br />
37<br />
REIS, João José. Rebelião Escrava no Brasil: a história do levante dos malês <strong>em</strong> 1835. Ed. revista. e<br />
ampliada. São Paulo: Cia das Letras, 2003.<br />
38<br />
Manoel Querino assim também proce<strong>de</strong>ra, e com isto isentando a participação <strong>de</strong> africanos islamizados na<br />
revolta <strong>de</strong> 1835, por não encontrar esse termo entre as qualificações das nações africanas envolvidas no<br />
levante: “No Arquivo Publico exist<strong>em</strong> 234 processos <strong>de</strong> revoltosos africanos, sendo: 165 Nagôs, 21 Aûssá, 6<br />
Tapas, 5 Bornos, 4 Congos, 3 Cambindas, 3 Minas, 2 Calabares, 1 Ige-bu, 1 Benin e 1 Mendobi, não se<br />
encontrando, por<strong>em</strong>, um só <strong>de</strong> Malê.” Cf: QUERINO, Manoel. A Raça Africana e seus Costumes na Bahia<br />
– M<strong>em</strong>ória apresentada. 5 o . Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Geografia. Bahia, Imprensa Oficial do Estado, 1917.<br />
p.62.<br />
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