Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
negros 66 , a qu<strong>em</strong>, nas palavras <strong>de</strong> <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong>, “a súbita liberda<strong>de</strong> atordoara e<br />
confundira” 67 . Durante a Primeira República a d<strong>em</strong>anda <strong>de</strong>stas elites se pautou <strong>em</strong> projetar<br />
um lugar social ao negro <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> parâmetros consi<strong>de</strong>rados a<strong>de</strong>quados. O incentivo à<br />
imigração européia e a esperança no branqueamento da população elevaram o caráter da<br />
miscigenação, numa criativa saída à questão da mestiçag<strong>em</strong>, como explica a antropóloga<br />
Lilia Schwarcz. Se a mistura <strong>de</strong> raças antes con<strong>de</strong>nava o Brasil, era também através <strong>de</strong>la<br />
que a nação <strong>de</strong>veria se salvar, revertendo-a a seu favor 68 . Esses eram planos para o futuro,<br />
cujos números otimistas do antropólogo Edgard Roquette-Pinto, não tardaria a chegar, com<br />
o branqueamento progressivo da população 69 . Mas até que isto se tornasse realida<strong>de</strong>, outras<br />
providências careciam ser tomadas. Diante da flagrante miscigenação da população<br />
brasileira os estudiosos se viram obrigados a rever o quanto antes alguns conceitos, para<br />
permanecer o Brasil na via do <strong>de</strong>senvolvimento. Continuasse con<strong>de</strong>nado pela raça,<br />
comprometido estaria o futuro da nação. Era mister se criass<strong>em</strong> novas concepções, a fim <strong>de</strong><br />
reverter o triste vaticínio. Por isso, durante os anos 1920 e 1930 muitos letrados<br />
reclamavam por um novo posicionamento do mestiço no estatuto moral da socieda<strong>de</strong><br />
brasileira - como o fez o ensaísta Baptista Pereira, discursando aos jovens bacharéis da<br />
Faculda<strong>de</strong> do Largo <strong>de</strong> São Francisco, <strong>em</strong> São Paulo:<br />
Garante-se que o Brasil sofre <strong>de</strong> uma lesão medular, pelos sangues contaminados que se lhe<br />
reuniram nas veias. Vaticina-se a sua incapacida<strong>de</strong> para a civilização. Afirma-se que não<br />
passa <strong>de</strong> um gigante tabético, incapaz <strong>de</strong> movimentos coor<strong>de</strong>nados.<br />
Por que ? – Primeiro, porque <strong>de</strong>scen<strong>de</strong> do português. Segundo, porque se lhe encontra, na<br />
estrutura racial, uma gran<strong>de</strong> contribuição africana e indígena.<br />
Será verda<strong>de</strong> ? Dev<strong>em</strong>os curvar a cabeça ante a fatalida<strong>de</strong> original ? Penso que não.<br />
66 a<br />
VIANNA, Oliveira. Raça e Assimilação. 2 . ed. São Paulo: Cia Editora Nacional, 19<strong>33</strong>. Coleção<br />
Biblioteca Pedagógica Brasileira, Série V, Brasiliana, Vol. IV. p.135.<br />
67 a<br />
CALMON, <strong>Pedro</strong>. História da Bahia. Resumo Didático. 2 . ed. São Paulo: Cia. Melhoramentos. S/d<br />
(19<strong>33</strong>?). p. 186.<br />
68<br />
Cf.: SCHWARCZ, Lilia Moritz. O Espetáculo das Raças. Cientistas, instituições e questão racial no<br />
Brasil (1870-1930). 4ª. Reimp. São Paulo: Cia das Letras, 2002; SILVEIRA, Renato . “Os selvagens e a<br />
massa”. Papel do racismo científico na montag<strong>em</strong> da heg<strong>em</strong>onia oci<strong>de</strong>ntal. AFRO-ÁSIA, Salvador, v. 1, n.<br />
23, 2000. p. 87-144.<br />
69 a<br />
Cf.: ROQUETTE-PINTO, Edgard. Ensaios <strong>de</strong> Antropologia Brasiliana. 3 . ed. São Paulo: Ed. Cia<br />
Nacional; Brasília: Ed. UNB, 1982. p.77. Brasiliana, Vol. 22 (1 a . ed. 19<strong>33</strong>); Coleção T<strong>em</strong>as Brasileiros,<br />
Vol.37.<br />
78