Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
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ainda baseadas <strong>em</strong> valores patriarcais, marcadas por re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> compadrio 48 . Estas re<strong>de</strong>s, ao<br />
t<strong>em</strong>po que dificultavam a circulação do negro na socieda<strong>de</strong>, permitiam a escalada social <strong>de</strong><br />
<strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> que, logo cedo, apren<strong>de</strong>u a transitar por elas, tecendo laços fortes <strong>de</strong><br />
sustentação.<br />
110<br />
A estratificação que o autor impõe sobre brancos e negros d<strong>em</strong>onstra o continuísmo<br />
do mesmo raciocínio já apresentado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua aparição no I Congresso Internacional <strong>de</strong><br />
História da América, <strong>em</strong> <strong>1922</strong>. <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> estabelece distinções sociais baseadas <strong>em</strong><br />
uma suposta hierarquia racial. Ao legar aos escravos e seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes uma posição<br />
subalterna na socieda<strong>de</strong> brasileira, o autor reafirma a sua própria posição social e <strong>de</strong> seu<br />
grupo, <strong>de</strong>finindo os espaços <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r longe do negro. Este, consi<strong>de</strong>rado melhor ou pior<br />
conforme as insígnias <strong>de</strong> valor que conseguia agregar a si, continuava ainda nos anos 1930<br />
a ter sua circulação social restrita por sua condição racial – como certificou o relato <strong>de</strong><br />
Donald Pierson, observando a socieda<strong>de</strong> baiana <strong>de</strong>ste período:<br />
Des<strong>de</strong>, porém, que não po<strong>de</strong> fugir à sua cor, mas ao contrário leva constant<strong>em</strong>ente<br />
consigo este sinal in<strong>de</strong>lével <strong>de</strong> status inferior, o preto ten<strong>de</strong> a ser catalogado por qu<strong>em</strong> o<br />
encontra pela primeira vez, como m<strong>em</strong>bro do grupo <strong>de</strong> status inferior. Só à medida que ele<br />
simultânea ou posteriormente dê provas <strong>de</strong> ter outras características normalmente<br />
associadas à posição <strong>em</strong> classe mais alta, tais como instrução, habilida<strong>de</strong> profissional,<br />
riqueza, boas maneiras, etc., o conceito original se modifica; e mesmo assim, o fato <strong>de</strong><br />
parecer-se com os m<strong>em</strong>bros da classe “inferior” continua sendo um dos critérios para julgálo<br />
e constitui indubitavelmente um percalço. 49 [grifos meus]<br />
48 FERREIRA FILHO, Alberto Heráclito. Qu<strong>em</strong> Pariu e Bateu que Balance! : mundos f<strong>em</strong>ininos,<br />
maternida<strong>de</strong> e pobreza: Salvador, 1890-1940. Salvador: CEB/Edufba, 2003. p. 192; Ver: BACELAR,<br />
Jeferson. A Hierarquia das Raças: Negros e brancos <strong>em</strong> Salvador. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Pallas, 2001;<br />
AZEVEDO, Thales <strong>de</strong>. Os movimentos “negros” na Bahia. As Elites <strong>de</strong> Cor numa Cida<strong>de</strong> Brasileira. Um<br />
estudo <strong>de</strong> ascenção social e classes sociais e grupos <strong>de</strong> prestígio. 2ª. Ed. Salvador: Edufba: Egba, 1996;<br />
BRAGA, Júlio. Na Gamela do Feitiço: repressão e resistência nos candomblés da Bahia. Salvador,<br />
EDUFBA, 1995; CARNEIRO, Édison. Religiões Negras e Negros bantos – Notas <strong>de</strong> etnografia religiosa e<br />
<strong>de</strong> folclores. 3 a . ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Civilização Brasileira, 1991; FREYRE, Gilberto. Bahia e Baianos.<br />
FONSECA, Edson Nery da (org). Salvador: Fundação das Artes/Egba, 1990; LANDES, Ruth. A Cida<strong>de</strong> das<br />
Mulheres. 2.ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Editora da UFRJ, 2002; LEITE, Márcia Maria B. S. Educação, Cultura e<br />
Lazer das Mulheres <strong>de</strong> Elite <strong>em</strong> Salvador, 1890-1930. Dissertação <strong>de</strong> Mestrado <strong>em</strong> História. UFBA, 1997;<br />
SANTOS, Mário Augusto da Silva. A República do Povo: sobrevivência e tensão – Salvador, 1890-1930.<br />
Salvador: Edufba, 2001; VIANNA, Hil<strong>de</strong>rgar<strong>de</strong>s. A Bahia já foi Assim. 2 a . ed. São Paulo: GRD; Brasília:<br />
INL, 1979.<br />
49 PIERSON, Donald. Brancos e pretos na Bahia: estudo <strong>de</strong> contacto racial. 2ª. ed. São Paulo: Cia. Editora<br />
Nacional, 1971. p.209.