15.05.2013 Views

Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...

Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...

Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

colegas das elites intelectualizadas expressavam nos diários da situação que circulavam no<br />

país:<br />

119<br />

QUANDO SOAM OS ATABAQUES. A polícia e a reportag<strong>em</strong> num santuário africano. É<br />

preciso limpar a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stes antros. A história do candomblé, triste r<strong>em</strong>iniscência do<br />

africanismo, já t<strong>em</strong> sido feita entre nós. Tais ritos ainda são cultuados no nosso meio. O<br />

Cel. Octavio Freitas, sub-<strong>de</strong>legado do Rio Vermelho, teve <strong>de</strong>nuncia <strong>de</strong> que naquele<br />

arrabal<strong>de</strong>, haviam diversas casas <strong>de</strong> candomblé e <strong>de</strong> feitiçaria, nas quais crianças e<br />

raparigas, <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> numero, ficavam presas, <strong>de</strong>spertando cuidados e inquietações <strong>de</strong> seus<br />

parentes e pessoas outras. Devidamente orientada, essa autorida<strong>de</strong> dirigiu-se, ont<strong>em</strong>, pela<br />

manhã e uma das citadas casas, a fim <strong>de</strong> verificar a procedência da queixa. E foi ao lugar<br />

<strong>de</strong>nominado Muriçoca, na Mata Escura.<br />

Lá, <strong>de</strong> fato, <strong>de</strong>parou-se-lhe uma habitação <strong>de</strong> aspecto misterioso, apesar das ban<strong>de</strong>irolas<br />

<strong>de</strong> papel <strong>de</strong> seda que a enfeitavam. Acompanhando-o um nosso repórter, b<strong>em</strong> como um<br />

fotógrafo <strong>de</strong> A TARDE. Chegados todos á aquela casa, o sr. Octavio Freitas encontrou-a<br />

cheia <strong>de</strong> pessoas pouco asseiadas, <strong>de</strong>notando vigília e cansaço, que se estendiam pelas<br />

camas infectas, <strong>em</strong> numero consi<strong>de</strong>rável. Aos cantos viam-se muitas crianças, a dormir<strong>em</strong>,<br />

e raparigas ainda jovens algumas vistosas, muito mal trajadas, <strong>em</strong>porcalhadas,<br />

d<strong>em</strong>onstrando ter<strong>em</strong> perdido muitas noites. 72 [grifos meus]<br />

<strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> não inovou na caracterização: imundice, fedor, mofo, repugnância, e<br />

o aspecto monstruoso dos “tristes ídolos”, e “entida<strong>de</strong>s iorubas, nus e <strong>de</strong>sarticulados” 73 ,<br />

que representavam muito b<strong>em</strong> a “triste r<strong>em</strong>iniscência do africanismo” que, segundo o A<br />

TARDE, <strong>de</strong>veria ser alvo <strong>de</strong> uma ação <strong>de</strong> “limpeza” pela polícia.<br />

As representações atribuídas a malês e nagôs na novela correspond<strong>em</strong>, como já<br />

vimos, ao estado <strong>de</strong> suas heranças na época <strong>de</strong> lançamento <strong>de</strong> Malês. Interpretamos que a<br />

morte dos chefes malês, eivada <strong>de</strong> nobreza e fidalguia, só foi <strong>de</strong>scrita por <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong><br />

nesses modos porque, no seu t<strong>em</strong>po, os malês <strong>em</strong> Salvador já haviam praticamente<br />

<strong>de</strong>saparecido e sua cultura, ainda que diluída <strong>em</strong> alguns aspectos no Candomblé, não era<br />

uma instituição ameaçadora aos valores que os brancos pretendiam impor a toda a<br />

socieda<strong>de</strong> baiana. O mesmo não cabe dizer da herança nagô, flagrant<strong>em</strong>ente presente no<br />

Candomblé, que pautava projetos que a tentaria reduzir a simples l<strong>em</strong>brança. Entretanto,<br />

naqueles anos os atabaques ainda soavam alto. <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong>, militante das elites<br />

72 A TARDE. Salvador, 20 ago. 1928. Apud RAMOS, Arthur. O Negro Brasileiro. Etnografia religiosa e<br />

psicanálise. 2 a . ed., Recife: Fundaj/ Ed. Massangana, 1988. p.106.<br />

73 Malês, p.104.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!