Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
maio: um povo ninado e dorminhento ao som monótono dos atabaques. [...] A 'arte<br />
africana' que se teima <strong>em</strong> impingir como 'arte brasileira' ganhará os palcos da outra<br />
banda do Atlântico. Os <strong>em</strong>presários, na sua caça ao 'exotismo', impingindo com 'cenas do<br />
Brasil' 'costumes do Brasil' esses espetáculos do Congo e Benguela que os 'filmes' da<br />
África reproduz<strong>em</strong>" 103<br />
As palavras <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa do historiador esclarec<strong>em</strong> suas opiniões contrárias à<br />
i<strong>de</strong>ntificação da cultura negra como parte legítima <strong>de</strong> uma cultura brasileira. Em 19<strong>33</strong>,<br />
essas concepções já se <strong>de</strong>lineiam, influenciando o autor na restrição dos espaços <strong>de</strong><br />
interferência do africano na construção <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional. O historiador evitou<br />
fazer “propaganda” <strong>de</strong> “africanismo” na HCB, na tentativa <strong>de</strong> esboçar uma “verda<strong>de</strong><br />
patriótica” sobre a formação <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> que lhe parecia mais “culta” que a realida<strong>de</strong><br />
exibida pela “macumba”. O Brasil era um país <strong>de</strong> “ambiciosa civilização” que não po<strong>de</strong>ria<br />
correr o risco <strong>de</strong> ser confundido com o “exotismo” africano 104 .<br />
A referência <strong>de</strong> <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> à “macumba” r<strong>em</strong>ete ao único t<strong>em</strong>a <strong>de</strong> influência<br />
africana admitida pelo autor no tecido da cultura nacional: a religião. A menção às “lendas<br />
e crenças” é tudo o que t<strong>em</strong> a dizer <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> sobre o tópico que, <strong>em</strong> verda<strong>de</strong>, se fosse<br />
por ele aprofundado, po<strong>de</strong>ria evi<strong>de</strong>nciar o gran<strong>de</strong> alcance da cultura africana no campo<br />
religioso brasileiro. De acordo com Nina Rodrigues, “<strong>de</strong> todas as instituições africanas [...]<br />
foram as práticas religiosas do seu fetichismo as que melhor se conservaram no Brasil” 105 .<br />
Muito ativa, e justamente por esta razão energicamente combatida pelas elites letradas, a<br />
herança da religião africana exibia vigor no início dos 1930. O candomblé persistia na sua<br />
execução realizada pelos <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> escravos, <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po que sofria sist<strong>em</strong>áticas<br />
103 ESTADO DA BAHIA. Salvador, 15 jul. 1939. Apud LÜHNING, op. cit.<br />
104 Nota-se no excerto o pouco conhecimento <strong>de</strong> <strong>Pedro</strong> <strong>Calmon</strong> sobre os el<strong>em</strong>entos da cultura <strong>de</strong> orig<strong>em</strong><br />
africana quando confun<strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> banto (“macumba”) com el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> nagô (“toada<br />
nagô”) – aspectos já estudados a seu t<strong>em</strong>po por outros acadêmicos. Cf.: SAMPAIO, Gabriela dos Reis. "Pai<br />
Quibombo, o Chefe das Macumbas do Rio <strong>de</strong> Janeiro Imperial". REVISTA TEMPO, UFF, n.11, Número<br />
especial sobre Religiosida<strong>de</strong>s, 2001.<br />
105 RODRIGUES, Nina. Os Africanos no Brasil. 6 a . ed., São Paulo: Ed. Nacional; Brasília: Ed. UnB, 1982.,<br />
p.214.<br />
92