Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
Discursos Racialistas em Pedro Calmon - 1922/33 - Programa de ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
igualitária, s<strong>em</strong> fornecer o Estado oportunida<strong>de</strong>s a esses indivíduos nos mesmos mol<strong>de</strong>s<br />
oferecidos aos indivíduos consi<strong>de</strong>rados brancos, e das classes abastadas.<br />
Mesmo i<strong>de</strong>ntificando-se a pretensa ignorância dos negros como responsável pelo<br />
seu estado “atrasado” <strong>de</strong> cultura, a violência policial mostrava-se como uma solução<br />
aparent<strong>em</strong>ente mais imediata ao probl<strong>em</strong>a, como citou o DIÁRIO DA BAHIA:<br />
128<br />
Apesar <strong>de</strong> ser um dos maiores centros <strong>de</strong> cultura nacional, uma verda<strong>de</strong>ira<br />
cida<strong>de</strong> universitária, possuindo varias escolas superiores, ginásio, Escola<br />
Normal, colégios e um s<strong>em</strong> numero <strong>de</strong> escolas primarias, reunidas ou isoladas, a<br />
Bahia possui ainda um gran<strong>de</strong> coeficiente <strong>de</strong> analfabetos, milhares <strong>de</strong><br />
pessoas entregues á ignorância e a todas as conseqüências <strong>de</strong>sse estado <strong>de</strong><br />
cegueira mental. T<strong>em</strong>os <strong>em</strong> primeiro lugar, a assinalar os prejuízos causados<br />
pela exploração torpe do baixo espiritismo.<br />
[...] A polícia <strong>de</strong> costumes <strong>de</strong>ve organizar patrulhas a fim <strong>de</strong> surpreen<strong>de</strong>r<br />
esses antros <strong>de</strong> perdição chamados “candomblés”, pren<strong>de</strong>ndo e processando<br />
todos quantos se <strong>de</strong>dicam a essa industria <strong>de</strong> exploração á ingenuida<strong>de</strong> e á<br />
ignorância das almas fracas.É preciso pôr um termo a essas práticas <strong>de</strong>poentes<br />
do nosso estado geral <strong>de</strong> cultura. A Bahia já não é um entreposto <strong>de</strong> escravos,<br />
como nos t<strong>em</strong>pos coloniais. É uma das mais ricas capitais do país. Extinga-se<br />
nela, portanto, o fetichismo. 100 [grifos meus]<br />
O discurso era s<strong>em</strong>pre o mesmo, já <strong>de</strong>s<strong>de</strong> fins do século XIX, e repetia-se<br />
in<strong>de</strong>finidamente: os negros eram ignorantes, e continuavam a reproduzir sua cultura<br />
inferior herdada <strong>de</strong> atrasadas tribos africanas, e esta inferiorida<strong>de</strong> era flagrante no<br />
Candomblé, uma superstição bárbara que provocava histeria, adorava monstros, e era a<br />
maior representação <strong>de</strong> barbárie que se podia conhecer. Assim, as tradições negras,<br />
principalmente as religiosas, foram fort<strong>em</strong>ente combatidas, tanto pela violência policial<br />
quanto pela violência moral. O “baixo espiritismo”, neste caso usado como um euf<strong>em</strong>ismo<br />
para Candomblé, aparece como causa impeditiva para alfabetização das pessoas. Dentro<br />
<strong>de</strong>ssa perspectiva, não faltavam escolas, e sim sobravam terreiros – sendo esta a explicação<br />
para o alto índice <strong>de</strong> analfabetismo entre os <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> escravos.<br />
100 DIÁRIO DA BAHIA. Salvador, 10 jan. 1929. Apud RAMOS, Arthur. O Negro Brasileiro. Etnografia<br />
religiosa e psicanálise. 2 a . ed., Recife: Fundaj/ Ed. Massangana, 1988. p. 107.